Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: PROC/0000000059
  • Domínio: Práticas sociais, rituais e eventos festivos
  • Categoria: Festividades cíclicas
  • Denominação: Feiras Novas
  • Outras denominações: Festas e Feiras Francas de Nossa Senhora das Dores; Festas do Concelho
  • Contexto tipológico: Manifestação de cariz religioso e cultural, as Feiras Novas realizam-se anualmente, no segundo fim de semana de setembro, na histórica vila de Ponte de Lima. Trata-se de um evento, também conhecido como as Festas do Concelho, que combina as celebrações religiosas, em honra de Nossa Senhora das Dores, com manifestações e representações de natureza sociocultural e atividades lúdicas.
  • Contexto social:
    Comunidade(s): Comunidade ponte-limense
    Grupo(s): Associação Concelhia das Feiras Novas; Município de Ponte de Lima; Paróquia de Santa Maria dos Anjos; Associação Empresarial de Ponte de Lima; Juntas de Freguesia do Concelho de Ponte de Lima; Associação de Folclore de Ponte de Lima; Associação dos Tocadores de Concertina de Ponte de Lima; Grupos de Teatro – Unhas do Diabo, Duplaface, Gacel, Os Gorilas, Grupo de Teatro da Facha, Pequenos Atores do Lima, Associação Luz e Vida Santa Gemma Jovem – Freixo; Grupos de Escuteiros; Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima; Cruz Vermelha Portuguesa; Associação Portuguesa dos Criadores de Bovinos de Raça Minhota (APACRA); Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA); Associação de Criadores da Raça Cachena (ACRC); Casa de S. José – Viana do Castelo (guarda roupa da procissão e cortejo histórico); Teixeira Couto (ornamentação); Pirotecnia Minhota (fogo de artifício)
  • Contexto territorial:
    Local: Vila de Ponte de Lima
    Freguesia: Ponte de Lima
    Concelho: Ponte de Lima
    Distrito: Viana do Castelo
    País: Portugal.
    NUTS: Portugal \ Continente \ Norte \ Minho-Lima
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: As Feiras Novas realizam-se com uma periodicidade anual.
    Data(s): As festas concelhias têm lugar no segundo fim de semana de setembro.
  • Caracterização síntese:
    As Feiras Novas realizam-se anualmente no segundo fim de semana de setembro e constituem, seguramente, a manifestação mais expressiva da identidade cultural, histórica e religiosa da comunidade ponte-limense. A sua organização é da responsabilidade da Associação Concelhia das Feiras Novas, criada em 2001, que conta com a colaboração ativa e permanente da Paróquia de Santa Maria dos Anjos e do Município de Ponte de Lima. Na origem das festividades está o processo de valorização da celebração da Padroeira das festas para estabelecimento de um período de exceção – a realização das feiras francas ao longo de três dias –, tendo em conta as lógicas burguesas e comerciais muito ligadas à própria identidade da urbe limarense. Daí resulta a junção da vertente religiosa com uma forte componente social, económica e cultural, de grande impacto na região, que representa o seu maior legado patrimonial. As Festas de Nossa Senhora das Dores estão intrinsecamente associadas à época das colheitas. Não é por acaso que as celebrações de setembro são as mais concorridas e, por essa razão, os três dias de feira franca aproveitam-se para escoar os produtos sazonais colhidos da terra. Tratando-se de um território sustentado na agricultura, desde tempos imemoriais, e sendo o seu povo dotado de uma religiosidade arreigada, espelhada nas rotinas sociais e nas práticas de trabalho, compreende-se o alargamento dos dias de feira e o crescendo da fé e da devoção à Senhora Dolorosa. Por isso, as Feiras Novas são o momento ideal para a festa, para as trocas comerciais e para o agradecimento a Nossa Senhora das Dores pelas dádivas alcançadas, materializado numa grandiosa solenidade demonstrativa da veneração e dedicação populares. Ao longo de seis dias, o seu programa oferece uma considerável variedade de eventos que vai ao encontro de todas as gerações, numa tentativa de satisfazer a generalidade dos gostos. O cartaz inclui concertinas e desgarradas, bandas de música, fados e tunas, bombos e gigantones, concurso pecuário e corrida de garranos, cortejo etnográfico, cortejo histórico, tourada, folclore, missa solene, procissão e verbena popular. Acrescenta ainda o “Music Fest” com sons alternativos. Paralelamente ao programa oficial, a última noite é palco das rusgas masculina e feminina, organizadas pelos bares locais há mais de uma década, que contam com a participação de um número significativo de “limianos” e “limianas”.
  • Caracterização desenvolvida:
    De fé e de ruralidade se fazem as Feiras Novas! Desde eras remotas, as feiras estavam associadas às festas da Igreja. Atualmente, as celebrações em honra de Nossa Senhora das Dores são as únicas que mantêm esta ligação. Apesar do surgimento da indústria e das mudanças socioeconómicas, a feira conseguiu preservar a sua pureza, achando-se ainda subordinada ao calendário religioso e às tradições sacro-profanas dos ritmos da natureza, mormente as colheitas. A feira de setembro funciona como uma montra promocional e de angariação de novos clientes, garantindo assim uma maior abrangência de público e inúmeras possibilidades de negócios. O trabalho agrícola conserva-se para muitos na sua forma mais tradicional, agilizado pela força dos braços e pelas velhinhas alfaias agrícolas (pois nem toda a gente tem capacidade financeira para comprar ou mesmo alugar um trator). Da parte do público, há um interesse crescente em apoiar o produtor local e uma maior procura de bens agrícolas de produção tradicional e biológica, destacando a potencialidade de um mercado cada vez mais global. Enquanto as feiras quinzenais servem uma comunidade mais restrita e local, a feira das festas concelhias, pelo número de visitantes que traz à vila, dá resposta a um público muito mais vasto que busca no pequeno agricultor a qualidade, a variedade e, por vezes, os preços que não encontra nas grandes superfícies. Nunca houve festa sem feira! Com o alargamento das festas para três dias, no século XIX, as celebrações em honra de Nossa Senhora das Dores foram batizadas de "Feiras Novas", num evidente distanciamento das habituais feiras quinzenais – já mencionadas no foral teresiano de 1125 –, mas também numa clara alusão à diversidade de produtos disponibilizados, muito graças ao período das colheitas. Ainda hoje, a feira de setembro representa um marco fundamental nas transações comerciais, sobretudo de bens agrícolas da época. A par dos agricultores locais, também os artesãos da terra dependem das festas concelhias para incremento das suas vendas e angariação de novos clientes. Aqui sublinha-se a arte do linho, semeado nas veigas da freguesia da Correlhã e trabalhado de forma tradicional, em todo o seu longo ciclo, por duas famílias, uma delas auxiliada por algumas voluntárias do centro comunitário da paróquia que cuidam de parte do processo, da espadelada à tecelagem. A inevitável evolução das festas concelhias! Na base das Feiras Novas, assim conhecidas desde 1826, temos, como já foi referido, as celebrações em honra de Nossa Senhora das Dores e a feira franca relacionada com o período das colheitas, transformando-a num variado e animado mostruário dos produtos da lavoura. No presente, as Festas do Concelho colocam em evidência uma parte significativa do património cultural imaterial de Ponte de Lima, bem como do património móvel, imóvel e natural que lhe está associado. Apesar de a sua origem ser essencialmente de cariz religioso, o seu cartaz programático foi-se adaptando à evolução dos tempos, apresentando algumas novidades ao longo dos seus quase 200 anos de existência. Algumas sobreviveram; outras acabaram por cair no esquecimento. Atualmente, as festividades ponte-limenses preenchem um total de seis dias de festa e feira, oferecendo aos milhares de participantes um vasto leque de diversões e de seculares tradições, que a despeito das diferentes conjunturas sociais e políticas, logrou conservar toda a sua riqueza. Por essa razão, “as Feiras Novas constituem [nos dias de hoje] uma das mais expressivas imagens de marca ou grande cartaz do concelho e da região” (J. Cândido Martins in Vieira, 2006). “O som inconfundível das concertinas e bombos, a imponência dos animais no concurso pecuário, as cores vibrantes dos cortejos e do folclore e a fé na Senhora das Dores [são alguns dos eventos que] marcam as festas que procuram pincelar com traços de modernidade e inovação um programa focado nos 190 anos das Feiras Novas” (Cardeal Saraiva, n.º 4627, 7 de setembro de 2016). AS DINÂMICAS QUE COMPÕEM AS FEIRAS NOVAS As Feiras Novas congregam diferentes dinâmicas que, apesar de aparentemente paradoxais, se complementam e encaixam em perfeita harmonia. Esmiuçando cada elemento que compõe a festa, sobressaem o PROFANO E LÚDICO, manifestado através da diversão, da folia, da borga, da partilha, dos comes e bebes; o CULTURAL E SOCIAL, espelhado nos cortejos (etnográfico e histórico), nos cantares ao desafio, no folclore, no artesanato; o COMERCIAL E RURAL, este último ainda presente e expressivo, patenteado na grande feira anual que, associada a uma altura fulcral do calendário agrícola – a época das colheitas –, favorece o escoamento dos produtos da terra, cultivados à moda antiga por alguns agricultores da região que se mantêm fiéis à ancestralidade dos seus usos e costumes, recorrendo ao “velhinho” arado ou charrua e à força dos seus animais com quem conservam uma estreita relação de entreajuda e familiaridade; e, por último, a FÉ E DEVOÇÃO, em destaque nas celebrações religiosas em honra de Nossa Senhora das Dores, cuja festa litúrgica se comemora em setembro. As festas concelhias praticamente marcam a reta final do ciclo de festividades que se assinala no Alto Minho. O facto de terem lugar em setembro, mês que dá início ao encerramento de mais um ano de produção agrícola, e de incluírem desde a sua origem a feira anual de Ponte de Lima, contribuiu para o engrandecimento e fortalecimento das Feiras Novas que, ao longo dos tempos, foram afirmando a sua força enquanto manifestação cultural que traduz a identidade da comunidade ponte-limense. Nas Feiras Novas, o ciclo da natureza junta-se ao ciclo litúrgico, no sentido em que o período das colheitas iniciado em setembro, potenciando as trocas comerciais dos mais variados produtos na grande feira anual, alia-se em perfeita simbiose ao culto religioso a Nossa Senhora das Dores que se realiza na Matriz de Ponte de Lima. Quem vai à feira – comprar, vender ou simplesmente confraternizar – aproveita para prestar a sua homenagem à Senhora Dolorosa e vice-versa. As festas concelhias funcionam como um museu vivo da etnografia, da história, das tradições, da devoção da comunidade ponte-limense. Se por um lado o património cultural e histórico da vila e do concelho é memorado e destacado nos cortejos etnográfico e histórico, por outro o património religioso e a manifestação da fé ganham especial reverência e protagonismo nas celebrações de segunda-feira exclusivamente votadas à padroeira das Feiras Novas através da missa com sermão e da grandiosa procissão. Apesar de toda a riqueza do programa de festas, há dois elementos que inevitavelmente se evidenciam, não só porque justificam a razão de ser das festividades de setembro, mas porque também representam a genuína essência do povo ponte-limense: a feira anual e a festa de Nossa Senhora das Dores. Não se estranha, por isso, que no passado se designassem as Feiras Novas como “Festas e Feiras Francas de Nossa Senhora das Dores”. São estes dois momentos que verdadeiramente explicam a relevância desta manifestação cultural e que espelham a identidade de um povo fortemente ligado à terra, à sua ruralidade, à sua fé e devoção pela Senhora das Dores. As Feiras Novas são, sem margem para contestação, as festas mais concorridas e participadas, pois é aqui que a comunidade ponte-limense encontra a sua essência, a sua identidade cultural, a sua razão de ser e de existir. PREPARAÇÃO DAS FEIRAS NOVAS Mal cessam as festividades, a comissão de festas vigente reúne-se para fazer um balanço da recém-concluída edição, de molde a avaliar o que pode ser melhorado, excluído ou mesmo acrescentado no ano seguinte. No arranque do novo calendário, a Associação Concelhia realiza habitualmente a primeira reunião oficial para a delineação e distribuição das tarefas a executar por cada membro, de forma autónoma, sempre com o apoio e a supervisão dos elementos da direção. Atualmente, a comissão é formada por vinte e cinco membros, tendo cada um deles a seu cargo várias responsabilidades e deveres. No entanto, e uma vez que, na sua maioria, as equipas de trabalho já cooperam há largos anos, a organização das festas torna-se menos complexa, embora anualmente haja sempre novos desafios e metas a cumprir. Terminada a primeira reunião, arrancam os preparativos para mais umas Feiras Novas. Cada elemento enceta as diligências necessárias para a concretização dos eventos. São, portanto, estabelecidos os contactos iniciais junto das freguesias para participarem no cortejo etnográfico; dos grupos de teatro para colaborarem no cortejo histórico; da Associação de Folclore para a realização de mais um festival; dos membros inscritos na Associação dos Tocadores de Concertina para a arruada da abertura oficial e para a noite das rusgas de sábado; das associações do gado bovino e cavalar para o concurso pecuário e para a corrida de garranos; do empresário responsável pela escolha da ganadaria, dos cavaleiros tauromáquicos e dos forcados para a tourada; da Associação Portuguesa de Empresas de Diversões (APED) para a seleção dos carrosséis e de outros divertimentos; da gráfica para a impressão do programa; etc. Nesta fase, decorre igualmente o peditório por todas as aldeias do concelho de Ponte de Lima e pelo comércio local e procede-se à recolha de patrocínios. Com o município coordena-se a logística e a montagem de equipamentos e define-se o espaço destinado ao terrado. A escolha do cartaz das Feiras Novas já passou por vários processos – abertura de concurso, artista ou designer convidado ou colaboração dos alunos da EPRALIMA – Escola Profissional do Alto Lima, delegação de Ponte de Lima. Em regra, o tema é escolhido pela Associação Concelhia e obedece a determinados requisitos, que sem prejuízo da criatividade, devem contemplar obrigatoriamente o chafariz do Largo de Camões, a ponte romana e medieval, o fogo de artifício, o folclore e a padroeira das festas – Nossa Senhora das Dores. Em regra, a organização do cortejo histórico começa mais cedo, pois é sempre necessário efetuar um levantamento exaustivo de informações acerca da história das festas ou da temática escolhida para o evento. Por isso, a preparação arranca no início do ano, obrigando à consulta de vários documentos existentes no Arquivo Municipal e à confirmação de diversas datas. Depois de concluída a fase de pesquisa e da elaboração do guião, procede-se à distribuição dos quadros que compõem o cortejo e à abertura das inscrições. Estas decorrem normalmente entre os meses de junho e agosto para facilitar a recolha atempada de todas as fichas, para dispor os inscritos pelos diferentes quadros e para acertar a execução de todos os fatos. O guarda-roupa do cortejo é, por norma, entregue pela Casa de S. José na quarta-feira de Feiras Novas e as provas realizam-se na sexta e no sábado. O terrado, cedido durante um período de sensivelmente 15 dias, entre a segunda-feira que antecede e o domingo que sucede as Feiras Novas, começa a ser organizado no arranque do ano, sendo que a partir de janeiro já surgem os primeiros pedidos para a ocupação do espaço reservado às festas. Os feirantes e os comerciantes são, então, repartidos pelos locais disponíveis, fixando-se anualmente nos mesmos pontos de venda. No areal, junto à Avenida 5 de Outubro (Plátanos), encontram-se os carrosséis e demais divertimentos para júbilo dos mais pequenos; no Passeio 25 de Abril destacam-se as farturas, os brinquedos, o artesanato, a doçaria tradicional, os trajes regionais, entre outros; na Avenida 5 de Outubro acolhem-se o vestuário e o calçado, os artigos de decoração, os utensílios domésticos, a marroquinaria e os pavilhões dos matraquilhos; e na Alameda de São João estabelecem-se as roulottes dos “comes e bebes” e as tascas tradicionais onde são servidas as malgas de vinho e se degustam as iguarias típicas da região. O restante areal, situado junto à ponte medieval, é destinado à feira franca, que por norma reúne os feirantes das feiras quinzenais que usualmente ocupam aquele espaço. Os agricultores locais, com os produtos da época, são distribuídos pelo mercado municipal ou, em alternativa, pelo lugar onde habitualmente decorrem os Feirões Agrícolas. Por seu turno, as celebrações religiosas são da competência da Paróquia de Santa Maria dos Anjos, contando sempre com a colaboração da comissão de festas. As inscrições para a procissão de Nossa Senhora das Dores arrancam com alguma antecedência – normalmente durante o mês de julho – para que haja tempo suficiente para a feitura das indumentárias dos figurantes. As cruzes e as lanternas processionais, os estandartes e os paramentos são igualmente preparados atempadamente para que nada falhe no dia dedicado a Nossa Senhora das Dores. Os andores, recentemente restaurados, são colocados na Igreja Matriz, na semana anterior às Feiras Novas, com as respetivas imagens, e no sábado procede-se à sua decoração. A própria igreja beneficia de uma limpeza mais cuidada e do embelezamento das capelas e dos principais altares com singelos arranjos florais. A montagem das ornamentações tem início nas duas semanas que precedem as festas. As principais artérias do centro histórico da vila, incluindo a ponte, são ricamente “engalanadas” e iluminadas, fazendo lembrar a todos os que aqui vivem, e a todos os que por aqui passam, que Ponte de Lima está em festa. “Os arcos festivos espalhados pelas ruas da vila (...) relembram tempos idos, conciliando a iluminação de noite com a ornamentação de dia” (Cardeal Saraiva, n.º 4627, 7 de setembro de 2016). Os equipamentos e materiais pirotécnicos são montados na margem direita do rio Lima na semana de arranque das Feiras Novas, entre quarta e quinta-feira. Os espetáculos piromusicais planeiam-se ao mínimo pormenor de molde a assegurar a perfeita sincronização do fogo de artifício com a música. Por seu turno, a segurança é garantida pelos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima. A praça de touros desmontável é colocada no picadeiro central da Expolima no início da semana da abertura oficial das festividades ponte-limenses. A segurança constitui a maior preocupação e o mais importante desafio para a Associação Concelhia das Feiras Novas. Além do habitual reforço policial e da contratação de segurança privada, são criados vários pontos de socorro, durante os seis dias de festa, posicionados estrategicamente em lugares-chave das vilas de Ponte de Lima e de Arcozelo. Cada um dos locais selecionados está devidamente assinalado com uma placa numerada que serve não só como ponto de ajuda, mas também como ponto de encontro. INÍCIO DA FESTA – A PRÉ-FESTA O arranque da festa tem hora marcada para as nove e meia da noite de quarta-feira. Aqui, destaca-se um dos sons mais emblemáticos da festa minhota – as concertinas. Este instrumento musical, diatónico, pertencente à categoria dos aerofones, é o que mais ecoa nas festividades da região do Minho. Apresenta forma retangular e é composto por dois teclados de botões, palhetas livres, reservatório e fole na parte central. Nas Feiras Novas, a concertina é considerada a “alma” das festas e a “rainha” dos instrumentos musicais. Faz-se ouvir às centenas durante os seis dias de festejos e constitui um dos símbolos máximos do folclore nacional. É presença assídua nas rusgas e arruadas, assim como nos famosos grupos de Zés-Pereiras. A noite de abertura das Feiras Novas é, portanto, marcada pela arruada de concertinas, composta por diversos tocadores, cantadores e cantadeiras que invadem as principais artérias da vila, com paragem obrigatória no Largo de São José, onde se encontra o monumento dedicado ao tocador de concertina, inaugurado a 17 de setembro de 2003, no arranque das Feiras Novas. Trata-se de uma peça esculpida por Martinho Pereira das “Pedras Sequeiros” num bloco único de granito, com uma altura superior a dois metros, representando uma figura masculina a tocar o singular instrumento musical. Uma hora mais tarde, as centenas de pessoas que enchem o centro histórico assistem, “em primeira mão”, ao acendimento da iluminação festiva que ornamenta as ruas e avenidas da vila. No segundo dia de festa – quinta-feira – já é possível percorrer os diferentes espaços da feira, onde agricultores locais promovem e comercializam os produtos da lavoura – fruto do seu trabalho que para muitos se traduz no principal meio de subsistência – e onde artesãos da terra expõem os seus artigos regionais, desde as peças de linho manufaturadas no tear e bordadas à mão às miniaturas do mundo rural feitas em madeira. O concelho de Ponte de Lima apresenta um território diversificado com áreas rurais que possuem uma variedade biológica muito particular e bastante rica. As zonas agrícolas mais vistosas, destinadas essencialmente à cultura do milho, estão localizadas em áreas planas de menor altitude. Aqui, os milheirais convivem com diversos tipos de parcelas agricultadas, nomeadamente as vinhas – verificando-se ainda a prevalência das ramadas –, os pomares e as hortas. Já com menor representatividade, encontram-se pequenos linhares, cuja planta ainda hoje é utilizada pelas poucas artesãs do linho que persistem no ofício, conhecendo-se duas famílias que se ocupam de todo o processo, da semente ao tecido. Continuando a narrativa das festas, a noite de quinta é preenchida pela música, sublinhando-se as rusgas e concertinas que percorrem as ruas da vila num ritmo frenético, as bandas de música que atuam no Largo de Camões – um dos principais palcos da festa –, assim como a música alternativa que anima os mais jovens na zona da Expolima. Por sua vez, a sexta-feira desperta com uma tradicional salva de morteiros. Este dia é, há largos anos, recheado “com um programa dedicado a espetáculos de fado, tunas académicas, bandas de música e cantares ao desafio” (Cardeal Saraiva, n.º 4628, 15 de setembro de 2016). Os fados de Coimbra e as tunas surgem nas festas concelhias no arranque da década de 90 do século passado. O ponto forte do programa da terceira noite de festa tem lugar no recinto da Expolima com os já habituais cantares ao desafio, cuja referência maior é o “Zé Cachadinha”. As desgarradas ou cantares ao desafio são, portanto, cantigas populares que fazem ressaltar a imaginação, a criatividade e o humor sagaz. Os cantadores vão-se desafiando e respondendo um ao outro, normalmente acompanhados por uma concertina. Aqui, estão patentes o talento musical e a destreza mental dos seus intervenientes. “São uma excelente e singular amostra da capacidade de improvisação lírica do povo e, também, um sofisticado mecanismo, destinado a manifestar em público tensões entre indivíduos e comunidades que se resolvem, desta forma, pela via poética” (Campelo, 2007). Esta tradição está associada a ocasiões festivas, como romarias, feiras, desfolhadas, etc. Nas desgarradas são abordados temas variados, tais como o escárnio e maldizer, o amor e ódio, a fé e caridade, criando-se rimas que, geralmente, provocam no adversário reações mais jocosas e, muitas vezes, cheias de ironia. As cantigas ao desafio podem ser divididas em quatro categorias principais: . As desgarradas com tema; . A cantiga encadeada, em que o cantador começa a sua estrofe com o último verso do seu opositor; . A dualidade homem/mulher, onde o tema mais usado é o amor; . A desgarrada simples, que não obedece a nenhum esquema ou tema. Durante as Feiras Novas, principalmente à noite, assiste-se a vários “duelos”, distribuídos por diferentes locais do centro histórico, que podem arrastar-se por minutos infindáveis, em fervoroso despique, dependendo da habilidade de cada cantador. PRIMEIRA FEIRA FRANCA – SÁBADO A primeira feira franca é anunciada pontualmente às 8 horas da manhã pela habitual salva de morteiros que assinala também o início do primeiro dia oficial das festividades. Para garantir o melhor lugar para o cortejo da tarde, alguns populares colocam, ainda ao amanhecer, vários bancos e cadeiras, presos uns aos outros, ao longo da Avenida António Feijó e das artérias que fazem parte do itinerário. Os primeiros grupos de Zés-Pereiras começam a “invadir” o centro histórico com os seus estrondosos bombos e caixas para deleite dos madrugadores que formam uma roda para apreciar o espetáculo. Rapidamente, o Largo de Camões é preenchido por diferentes grupos de bombos, gigantones, cabeçudos e gaiteiros. Na região minhota, os Zés-Pereiras participam em todas as romarias e festas com os seus imponentes bombos, caixas e gaita-de-foles, conquanto esta última tenha sido recentemente substituída pela famosa concertina. Durante as suas atuações, os Zés-Pereiras são geralmente acompanhados por Gigantones e Cabeçudos. São, portanto, conhecidos como um grupo constituído por membranofones – tais como os bombos, as caixas e os tambores – e por aerofones – como, por exemplo, a gaita-de-foles e a concertina. A sua origem é bastante remota, não se sabendo ao certo quando terá surgido a tradição. Trata-se de um conjunto de uso essencialmente cerimonial, fortemente associado às Feiras Novas, sendo presença assídua no programa de festas de Ponte de Lima. No entanto, a tradição dos Zés-Pereiras acha-se igualmente ligada a diversas cerimónias públicas e a procissões. Por sua vez, os gigantones e cabeçudos desfilam nas Feiras Novas há mais de cem anos. Acredita-se que a sua introdução nas romarias portuguesas aconteceu nos derradeiros anos do século XIX. Os gigantones são, como o próprio nome indica, figuras de grandes dimensões, armadas sobre uma estrutura, coberta por um longo vestido, que sustenta a cabeça gigantesca. Em contrapartida, os cabeçudos resumem-se à cabeçorra que é apoiada diretamente nos ombros da pessoa. Inicialmente estas figuras estavam associadas a marchas processionais ou a cortejos. Como exemplo, temos “a Serpe e o Dragão” que integravam a procissão do Corpo de Deus – e que ainda hoje estão presentes na Festa da Coca de Monção. Atualmente, os gigantones e cabeçudos encontram-se maioritariamente em manifestações lúdicas e laicas, aparecendo na companhia dos grupos de Zés-Pereiras. Retomando a descrição das festas, as bandas de música abrilhantam, uma vez mais, o palco principal das Feiras Novas – o Largo de Camões – atuando durante todo o dia e toda a noite nos dois coretos colocados estrategicamente, lado a lado com o emblemático chafariz. Concurso Pecuário A componente comercial e económica da festa da Senhora das Dores está patente desde as suas origens. A feira do gado constitui, seguramente, um dos aspetos mais ancestrais das Feiras Novas. Presente no programa, pelo menos, desde 1826, a compra e venda de gado bovino estimula a economia local e contribui para o incremento da indústria pecuária. O concurso terá surgido no dealbar do século XX. Ali são premiados os melhores exemplares das raças bovinas, servindo como estímulo para os lavradores apostarem na melhoria do seu gado. “Um dos pontos mais emblemáticos e identitários das Feiras Novas [decorre] no sábado com a realização do concurso pecuário na Expolima que [em 2016 contou com] a participação de [cerca de] 200 animais, das raças cachena, barrosã e minhota” (Cardeal Saraiva, n.º 4628, 15 de setembro de 2016). O gado começa a chegar de madrugada, por volta das 3-4 horas da manhã. Há que evitar o trânsito e assegurar o descanso dos animais. Ao raiar do dia, dá-se início ao tratamento e escovagem dos exemplares bovinos num recinto contíguo ao picadeiro onde vai decorrer o concurso. Além dos pecuaristas, centenas de pessoas madrugam para assistir ao processo. Os animais são cuidadosamente limpos, escovados e os chifres lustrados. Ao mesmo tempo, vão decorrendo as inscrições nos guichés situados no picadeiro central. São três as raças bovinas avaliadas no concurso pecuário: . A raça minhota – originária do distrito de Viana do Castelo, está atualmente distribuída por todo o noroeste de Portugal. É a única raça nacional explorada na vertente leiteira, afora a de carne, e apresenta uma elevada capacidade de crescimento. . A raça barrosã – embora proveniente das terras do Barroso, a sua criação estende-se desde o extremo noroeste do distrito de Vila Real às zonas montanhosas da região minhota. É conhecida pela sua dupla função de trabalho e de carne. . A raça cachena – trata-se da mais pequena raça bovina portuguesa e encontra-se nas zonas mais altas das serras, nomeadamente na região do Gerês. Vacas aleitantes por vocação, pastoreiam livremente em grupo e vivem ao ar livre durante praticamente todo o ano. Cada raça é avaliada, individualmente ou por juntas, consoante a sua morfologia, e os prémios distribuídos por diferentes classes, sendo os animais agrupados por faixa etária e género. São também analisados os exemplares bovinos, inteiros ou castrados, entre outros critérios. A raça Minhota é a mais numerosa por efeito da dimensão nacional do concurso. Competem touros reprodutores, novilhos, vacas, novilhas, juntas de bois, juntas de novilhos e juntas de vacas. A nível concelhio participam vacas e novilhas. Na raça Barrosã, a avaliação é feita em duas secções distintas – as juntas e os animais individuais. No primeiro caso, são apreciadas juntas de bois de trabalho, de novilhos castrados, de vacas e de novilhas. Na 2.ª secção, vão a concurso touros, novilhos, vacas e novilhas. Na Cachena, a mais recente na competição, são apenas avaliados animais individuais, nomeadamente touros, novilhos, vacas e novilhas. Os animais inscritos são trazidos para o picadeiro por volta das 10 horas e alinhados lado a lado, em diferentes filas, consoante a raça e a classe a julgar. O júri do concurso é formado por técnicos pertencentes à Associação Portuguesa dos Criadores de Bovinos de Raça Minhota (APACRA) – fundada em Ponte de Lima em 1996 –, à Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA) – criada em Braga em 1990 – e à Associação de Criadores da Raça Cachena (ACRC) – nascida nos Arcos de Valdevez em 1993. As taças concedidas aos lugares cimeiros são patrocinadas por várias empresas da região e os prémios vão desde os 25 aos 160 euros. Após a distribuição das fitas aos vencedores de cada raça, dá-se início ao habitual desfile dos animais que percorre toda a Alameda de São João, contorna o Largo de Camões e regressa à Expolima onde são, finalmente, entregues as taças aos primeiros lugares de cada categoria. Paralelamente ao concurso de bovinos, decorrem igualmente o concurso nacional de galinhas das raças Pedrês Portuguesa, Preta Lusitânica, Amarela e Branca e o concurso de ovinos das raças Bordaleira de Entre Douro e Minho e Churra do Minho. Por sua vez, da parte da tarde, antes da corrida de passo travado, realiza-se o concurso nacional de equinos de raça Garrana. Todos estes concursos visam a promoção e divulgação das raças autóctones – enquanto componente importante na preservação do mundo rural –, valorizando o esforço dos seus criadores e estimulando a sua criação e salvaguarda. Zés-Pereiras e Gigantones Mal termina o desfile do concurso pecuário, o Largo de Camões é novamente tomado pelos vários grupos de Zés-Pereiras que mostram, orgulhosos, o ribombar dos seus portentosos bombos. Cada grupo põe à prova o vigor da sua batida num aceso, mas saudável, despique que até faz estremecer as pedras da calçada. Cortejo Etnográfico Introduzido no cartaz programático das Feiras Novas no ano de 1964, o cortejo etnográfico espelha o património cultural material e imaterial do concelho de Ponte de Lima. O objetivo central é a promoção da etnografia local, através da exibição de quadros cénicos demonstrativos de práticas relacionadas com as freguesias. Anualmente, cada junta escolhe um tema representativo da sua terra e da sua identidade enquanto comunidade. O cortejo funciona como um verdadeiro mostruário dos usos e costumes, das tradições seculares, das técnicas da lavoura, da pastorícia e da pesca, dos ofícios, do artesanato e da gastronomia, do património imóvel e religioso, das artes da vinificação e da panificação, das riquezas naturais como o azeite, o linho e o granito, da beleza dos trajes regionais, entre outros elementos. A responsabilidade pela introdução deste cortejo nas Feiras Novas é atribuída a Manuel da Silva Barbosa, naquela altura membro da comissão de festas. Na sua primeira edição há registo da presença das juntas de freguesia de Anais, Cepões, Bárrio, Facha, Arca, Freixo, Ardegão, Correlhã, Vitorino dos Piães, Calvelo, Vitorino das Donas, Seara, Poiares, Arcozelo e Feitosa. O desfile abria, como ainda hoje acontece, com um grupo de Zés-Pereiras e Gigantones, seguido pelas diferentes representações do concelho ordenadas alfabeticamente. Ponte de Lima congrega, desde 2013, um total de 39 freguesias. No entanto, em face do elevado número de intervenientes, as povoações nunca participam em simultâneo, alternando ano após ano. Durante a manhã, nas ruas junto às escolas, distribuem-se as placas com o nome de cada localidade, definindo-se a ordem de saída dos carros. Estes são organizados por temas. As juntas apresentam-se no sítio da partida ao início da tarde, de molde a permitir a realização do necessário controlo/inspeção de todos os envolvidos. Depois de confirmado o rigoroso cumprimento das regras, dá-se permissão para o arranque do desfile. O cortejo abre com os Zés-Pereiras e os seus estrepitosos bombos e com os gigantones, seguidos de uma pequena demonstração dos usos, costumes e tradições da região. Avança depois o desfile de trajes regionais, devidamente organizado pelas diferentes tipologias. Em primeiro surge o fato “à lavradeira”, considerado o traje típico de festa da região de Viana do Castelo, sendo o mais emblemático e comum o de cor vermelha. Existem também os trajes azuis, normalmente associados às terras localizadas à beira-mar, e os verdes, que simbolizam as zonas mais verdejantes e montanhosas. Regra geral, é composto por camisa de linho branca bordada a azul, colete até à cintura decorado com lãs de várias cores, missangas, vidrilhos e lantejoulas com barra preta de veludo, saia de tecido manual pelo tornozelo com listas verticais vermelhas, pretas e brancas, amplamente rodada com uma larga barra preta em baixo, avental colorido decorado com motivos florais, meio lenço estampado com franja traçado no peito e dobrado nas orlas do colete, e lenço franjado na cabeça cruzado na nuca e atado ao alto, algibeira em forma de coração, posicionada no lado direito entre a saia e o avental, meias brancas bordadas e chinelas pretas. As cores dominantes são o vermelho, o verde, o amarelo, o azul e o preto. O traje é complementado pelo ouro, em particular por brincos de filigrana “à rainha” e por fios, trancelins e colares de contas. De seguida observa-se o traje de trabalho, que apresenta algumas variações. É composto por camisa de linho branco com bordados simples, saia de tecido manual com listas pretas e brancas, colete de trespasse com decote acentuado de tecido de algodão estampado, avental com fundo preto e listas cor-de-rosa, verdes, amarelas e brancas, com decorações geométricas e florais, lenço de cabeça de algodão estampado atado ao alto, “peúcas” (ou canos – espécie de polainitos ou meias sem pé) de algodão, socos e brincos. “De um modo geral, o trajo de campo caracteriza-se por uma maior simplicidade dos tecidos, da decoração e das cores sóbrias” (Ribas, 2004). Logo atrás surge o traje da noiva, de cor preta, constituído por jaqueta ou casaca de seda preta – ajustada ao corpo e formando uma pequena aba na cintura –, saia comprida de tecido preto de lã muito rodada, avental de veludo preto com bordados de missangas e algibeira de tecido preto. Na cabeça usa lenço de seda branca ou véu de renda, na mão carrega ramo de flores de laranjeira e lenço do amor bordado a ponto de cruz, meias de renda branca e chinelas de verniz bordadas. Aqui, os adornos de ouro são abundantes. Por último, desfilam as mordomas, cujo traje pode ser de duas cores – preto ou azul-escuro. O primeiro é normalmente usado em três momentos da vida de uma mulher – na mordomia, no dia do seu casamento e no seu funeral. O de cor azul, em regra, é revelador do poder económico da pessoa que o enverga, podendo usar esse fato na mordomia e comprar um novo, de cor preta, para vestir no seu casamento. O traje de mordoma é formado por camisa branca de corte tradicional com bordados azuis, colete de trespasse preto ou azul com barra de veludo preto decorado com missangas, lantejoulas e vidrilhos, saia comprida azul ou preta, e avental de veludo preto. A complementar a vestimenta, a mordoma segura na mão uma vela votiva envolvida na base por um lenço branco de namorado bordado a ponto de cruz com linha vermelha, na cabeça enverga lenço de seda vermelho, no peito carrega uma grande variedade de ouro tradicional – nomeadamente colares de contas e cordões com cruzes e corações de filigrana – e nas orelhas sustenta brincos “à rainha”. Ostenta igualmente meias brancas de renda e chinelas pretas. A fechar a linha da frente cumpre-se o desfile dos tocadores de concertina, seguindo-se os carros temáticos das freguesias participantes. Corrida de Garranos O garrano – cavalo autóctone da península ibérica – é apontado como a raça equina portuguesa mais antiga. Trata-se de um animal de pequena estatura, sendo por isso conhecido como o “pónei de montanha português”. Habita o alto das serras e os baldios da região minhota, vivendo em estado semisselvagem. Apresenta uma estrutura sólida e andamento curto. Na corrida de passo travado competem duas categorias – a raça garrana (com animais registados) e outras raças com um máximo de 1,5 m ao garrote. As inscrições decorrem no próprio dia, no recinto da Expolima, imediatamente antes do início da corrida. Em cada categoria está prevista a atribuição de 10 prémios, cujo valor varia entre um mínimo de 20 euros e um montante máximo de 140. Durante a corrida são avaliados o passo travado e o tempo. Para o efeito, destacam-se três pessoas para a cronometragem e outras três para apontar as faltas e atribuir as devidas penalizações. Depois de apurados, com todo o rigor, os vencedores de ambas as provas, são distribuídos os respetivos prémios e taças. Rusgas e Concertinas A noite da primeira feira franca dá especial destaque às tradicionais rusgas e concertinas que invadem praticamente todas as artérias do centro histórico da vila de Ponte de Lima. Em cada rua, ruela ou praça apreciam-se vários grupos de tocadores e cantadores que vão animando o serão. Quem assiste não consegue resistir a um “pezinho de dança” e de forma espontânea vão-se formando diversas rodas de ritmos típicos da região. Mesmo quem não domina o vira ou o malhão arrisca-se a experimentar, contagiado pelo ambiente de generalizada folia. “Os largos de Camões, S. José e S. João [são alguns dos] pontos de paragem obrigatória para a estúrdia associada ao típico instrumento musical” – a concertina (Cardeal Saraiva, n.º 4628, 15 de setembro de 2016). As rusgas são “rondas” minhotas, também conhecidas, conforme a região, pelo nome de rusgatas, tocatas, festadas, estúrdias, entre outros. Consistem basicamente em manifestações lúdicas e, geralmente espontâneas, de um grupo de pessoas que toca toda a espécie de instrumentos musicais e que se reúne em festas e romarias para celebrar, para se divertir, para brincar e conviver. “As rusgas têm caráter acentuadamente e exclusivamente festivo, animado e alegre, e, muitas vezes improvisadas”, (Oliveira, 2000) são presença dominante nas Feiras Novas. A noite de sábado é, portanto, especialmente dedicada a esta tradição, merecendo particular realce os tocadores de concertina. Na segunda-feira, em jeito de remate das festividades, realizam-se igualmente as rusgas masculina e feminina dos bares locais. Mas todos os momentos da festa ponte-limense são palco das tradicionais tocatas, momentos únicos de animação e estúrdia que espelham uma das tradições mais enraizadas na região. Onde há um tocador, seja profissional ou amador, o divertimento é garantido e rapidamente se formam rodas de gente capazes de dançar e cantar a noite inteira. A partir das doze badaladas, os mais jovens podem sempre contar com o Music Fest, que decorre na Expolima em alternativa aos sons e ritmos de pendor tradicional. O ponto alto da noite – o fogo de artifício – está reservado para as 00h30. Trata-se de um espetáculo piromusical que tem lugar na margem direita do rio Lima entre as duas pontes, a nova e a velha. Durante cerca de vinte minutos, o céu é iluminado por uma diversidade de cores e luzes harmoniosamente sincronizadas com vários temas musicais. Ao primeiro foguete, a multidão invade o areal, o passeio, a ponte medieval e todos os locais disponíveis para contemplar a sessão de fogo de artifício que tão brilhantemente alia o poder sonoro da música à magia da arte pirotécnica. SEGUNDA FEIRA FRANCA - DOMINGO A salva de morteiros anuncia, uma vez mais, o arranque do segundo dia oficial dos festejos em honra de Nossa Senhora das Dores. O domingo dedica-se particularmente à história local, à arte de tourear e ao folclore. A manhã abre, como é habitual, com os grupos de Zés-Pereiras e Gaiteiros, e com os gigantones e cabeçudos, para gáudio dos corajosos madrugadores que fazem questão de tirar o melhor proveito das festas. E nos coretos do Largo de Camões assiste-se aos concertos das bandas de música que atuam durante todo o dia e toda a noite. Ao meio-dia, repete-se o ribombar dos bombos dos Zés-Pereiras. Cortejo Histórico Integrado nas festas concelhias desde 1971, reproduz o património histórico de Ponte de Lima. Anualmente é criado um guião, estruturado cronologicamente, que dá a conhecer um pouco mais sobre a história local, desde a Pré-História até ao presente. O primeiro guião, da autoria do Padre Manuel Dias (1933-2015) – um dos grandes impulsores da etnografia e da história do concelho –, teve como mote de estreia a “Tomada da vila aos castelhanos”, sendo o cortejo dividido em três partes principais – a inicial com 11 quadros onde se abordaram alguns dos mais importantes acontecimentos da história local; a segunda dedicada a ponte-limenses notáveis, como o poeta António Feijó (1859-1917), o General Norton de Matos (1867-1955) e o Cardeal Saraiva (1766-1845); e a última parte representativa das instituições locais. Por sua vez, em 2016, para assinalar os 190 anos das festividades da Senhora das Dores foram apresentados um total de 17 quadros e mais de 900 figurantes. Para a composição do guião selecionaram-se alguns dos eventos de maior destaque, que foram sendo introduzidos ao longo dos tempos, obedecendo, como já é habitual, a uma ordem cronológica. O desfile “começa com a resenha das Feiras Novas e acaba em quadros [com] curiosidades das festas” (Alto Minho, n.º 1289, 8 de setembro de 2016). Habitualmente, em todas as edições, os figurantes dirigem-se ao início da tarde à Escola António Feijó – ponto de partida do cortejo – onde se encontram o guarda-roupa e as costureiras para os derradeiros ajustes. A última prova é realizada na véspera. Pouco antes das 15h30, começam a formar-se os quadros que compõem o desfile na rua paralela ao estabelecimento de ensino. O Cortejo Histórico conta sempre com a participação de algumas entidades, nomeadamente grupos de teatro amador, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, Ranchos Folclóricos do concelho e Centro Equestre do Vale do Lima. Tourada A Tourada, agendada para as 18 horas, realiza-se numa praça desmontável, instalada no grande picadeiro da Expolima. A multidão adensa-se, a lotação do espaço esgota-se. Na corrida de touros participam normalmente três cavaleiros e dois grupos de forcados amadores. Para a lide são apresentados 6 possantes touros. A abrilhantar o evento há sempre uma banda de música. Ao longo de cerca de três horas, assiste-se a um emblemático espetáculo de toureio a cavalo e a ousadas pegas que convencem e deliciam o público presente. Festival Limiano de Folclore O folclore faz parte da cultura e da identidade da comunidade ponte-limense desde tempos imemoriais. No seu sentido mais lato, significa todo o saber do povo e representa, portanto, todas as tradições populares nas suas mais variadas manifestações. Tradicionalmente, as danças e os cantares populares marcam presença no quotidiano rural minhoto. No passado, o trabalho no campo, por exemplo, era frequentemente acompanhado por melodias tradicionais e ao fim da longa jornada ainda havia forças para uma roda de dança. Atualmente, o folclore – enquanto “conjunto das canções e danças populares relativas a certa época ou região” – assume um papel mais performativo através dos ranchos folclóricos, que atuam “sobre um estrado, integrados num grupo misto, acompanhados por tocadores e dançarinos fardados, perante uma assistência passiva, que [assume] o papel de ouvinte” (Campelo, 2007). A dança e o canto populares deixam de ser pertença exclusiva e privada do grupo para se institucionalizarem e se abrirem para o exterior. “A noite de domingo [das Feiras Novas é, portanto,] dedicada ao folclore com a realização de dois festivais, (…) que [são] precedidos pelo [tradicional] desfile dos 17 ranchos folclóricos do concelho pelas principais ruas da vila” (Cardeal Saraiva, n.º 4628, 15 de setembro de 2016). O evento tem início marcado para as 21,30 horas. Após a cerimónia de abertura, momento em que se procede à entrega das fitas e à sua colocação nos estandartes, os grupos são encaminhados para os respetivos palcos. À semelhança da noite da primeira feira franca, o domingo é igualmente palco do Music Fest – para sons mais alternativos – e da brilhante sessão de fogo de artifício. Aqui, é-nos novamente apresentado um espetáculo piromusical que mais uma vez alia a música a uma frenética dança de luzes e cores. TERCEIRA E ÚLTIMA FEIRA FRANCA – SEGUNDA-FEIRA A segunda-feira, último dia oficial das festas desde 1954, é consagrada às solenidades religiosas em honra de Nossa Senhora das Dores – padroeira das festas. A habitual salva de morteiros anuncia o arranque das festividades às 8 da manhã e, uma hora mais tarde, as bandas de música iniciam as suas atuações nos coretos do Largo de Camões. Missa Solene e Procissão Às 10,30 horas tem lugar na Igreja Matriz de Ponte de Lima a missa cantada com sermão, que percorre as sete dores de Nossa Senhora. Os fiéis comparecem em massa, enchendo por completo o edifício da Matriz, reflexo da crescente fé e forte devoção a Nossa Senhora das Dores, apaziguadora das aflições e dos anseios e corredentora das almas e dos pecados (Barbosa, 2013). À tarde, por volta das 16h30, assiste-se à majestosa procissão que parte da Matriz e atravessa algumas das principais artérias do centro histórico, terminando onde começa – na igreja paroquial de Santa Maria dos Anjos. A procissão em honra de Nossa Senhora das Dores representa uma tradição secular, símbolo máximo da fé e da religiosidade dos devotos da vila de Ponte de Lima. A devoção à Senhora Dolorosa intensifica-se no início do século XVIII com a construção de um altar na Igreja Matriz e, um século mais tarde, no ano de 1826, a Virgem torna-se a padroeira das Feiras Novas. Nessa época, “a componente religiosa constituía um dos momentos mais marcantes do programa [das festividades], atingindo o ponto mais elevado com a procissão. Durante a festa, os fiéis recorrem à milagrosa Imagem para aplacar as suas aflições, dificuldades, doenças e sentirem-se mais próximos do mundo celestial” (Barbosa, 2013). Aproveitam igualmente para agradecer todas as dádivas e bênçãos que receberam no último ano e para pedirem proteção para o futuro incerto. A procissão tem como tema central as sete dores de Nossa Senhora – a profecia de Simeão; a perseguição de Herodes e a fuga da Sagrada Família para o Egito; a perda do Menino Jesus no templo de Jerusalém; o encontro de Maria com o Filho, a caminho do Calvário; a crucificação de Jesus; a descida de Jesus da cruz, colocado morto nos braços da Mãe; e a sepultura de Jesus, ficando sua Mãe em triste solidão. Todos os anos são igualmente abordados outros assuntos pertinentes para a celebração religiosa e para a devoção da Virgem Maria. O cortejo religioso conta com o envolvimento de figurantes alegóricos e de confrarias e irmandades, de que se destacam a Ordem Terceira de São Francisco, a Irmandade de Nossa Senhora a Grande, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, a Irmandade de Nossa Senhora das Dores, a Irmandade do Imaculado Coração de Maria e a Confraria do Santíssimo Sacramento. Participam ainda a Fanfarra e a Guarda de Honra dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, duas bandas de música, a comissão de festas, as autoridades concelhias e as associações civis. “A procissão representa a anunciação, visitação, nascimento, as Bodas de Canã e a vida pública de Jesus até à contemplação das sete dores de Nossa Senhora” (Alto Minho, n.º 1290, 15 de setembro de 2016). O desfile é composto por diferentes quadros e pelos andores de Santa Maria dos Anjos, do Beato Francisco Pacheco – missionário e mártir ponte-limense –, de Nosso Senhor dos Aflitos e de Nossa Senhora das Dores. A procissão abre com a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, seguindo-se as Irmandades e Confrarias com as suas bandeiras e cruzes processionais, os quadros temáticos com os figurantes e os andores circundados por lanternas processionais. A fechar o préstito surge o pálio sob o qual é conduzido o Santo Lenho, acompanhado pelos membros do clero e, novamente, por lanternas processionais. A cruz relicário (ou Santo Lenho), datada do século XVII, pertencia à Ordem Terceira de São Francisco e atualmente integra o acervo do Museu dos Terceiros, instalado nos antigos Convento de Santo António dos Frades e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. Feita em prata filigranada, a cruz relicário apresenta “face orlada por friso trilobado, com engastes de vidro colorido a azul safira, verde-esmeralda e vermelho rubi, e base semi-octogonal estruturada em três patamares, com maior saliência para o do nível intermédio” (Catálogo do Museu dos Terceiros, 2008). À frente do pálio aparecem dois clérigos carregando nas mãos um turíbulo e uma caldeirinha com hissope. Por fim, seguem as autoridades concelhias, as associações civis, a banda de música e os fiéis devotos. Verbena Popular Ao final da tarde, por volta das 19 horas, assiste-se à despedida das bandas de música. A noite dá lugar ao derradeiro evento que encerra as festividades em honra de Nossa Senhora das Dores – a Verbena Popular. Trata-se do tradicional arraial noturno que tem como palco, uma vez mais, o Largo de Camões. Em simultâneo, realizam-se as rusgas masculina e feminina dos bares locais que também animam a última noite das festas concelhias. Em razão de o evento não integrar o programa oficial das Feiras Novas vamos considerá-lo como uma manifestação associada a abordar no ponto seguinte.
  • Manifestações associadas:
    A tradição das rusgas organizadas pelo Bar Girabola, localizado no centro histórico da vila de Ponte de Lima, tem início no arranque do século XXI e conta apenas com a participação do sexo masculino. A ideia surge de um pequeno grupo de amigos, composto por aproximadamente 20 a 30 pessoas, que ao longo dos anos vai granjeando novos elementos, chegando nos dias de hoje aos 250 participantes. Decorridos 8 anos sobre o aparecimento da iniciativa, as rusgas ganham uma componente feminina, que se mantém desde 2008 até ao presente. A noite principia com a concentração dos grupos masculino e feminino à porta do bar responsável pela organização do evento. Entre as 19 e as 20 horas, todos se apresentam equipados com as suas respetivas t-shirts e chapéus, cujas cores variam anualmente. Na edição de 2016, os rapazes trajam t-shirt branca e chapéu de palha com fita vermelha; as raparigas apresentam-se de camisola amarela e chapéu vermelho. Após alguns minutos de preparação e afinação, cada grupo dirige-se ao local onde é tirada a tradicional fotografia – as raparigas posicionam-se na escadaria da Capela das Pereiras e os rapazes no Largo de São João. De seguida, dá-se início à primeira parte da rusga. Cada grupo percorre ruidosamente as principais ruas do centro histórico em direção ao restaurante onde vai decorrer a tão aguardada “jantarada” – o jantar masculino decorre no Restaurante Panorâmico da Expolima e o feminino no Restaurante Encanada. Do menu faz parte uma dose substancial de alegria e de boa disposição, à qual se juntam um apetite voraz pelo tradicional arroz de sarrabulho – o apanágio gastronómico da região – e uma vontade incessante de fazer soar a original panóplia de instrumentos musicais selecionados para a ocasião. Desde a concertina à flauta, passando pela pandeireta e pelo tambor, toda a noite se toca sem cessar, mesmo durante a refeição, criando um ambiente típico de um arraial minhoto. Terminada a degustação musicada, os grupos masculino e feminino desfilam separadamente pelas ruas do centro histórico, exibindo os seus dotes musicais e a contagiante euforia. A rusga culmina com o encontro de ambos de que resulta uma espécie de despique em que se testa a força instrumental e o poder vocal de cada um.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: Há 190 anos que as Feiras Novas mantêm viva a sua tradição. Esta tem vindo a ser transmitida, através da escrita e da oralidade, pelos detentores desta manifestação cultural imaterial, de geração em geração, de pais para filhos, de avós para netos, entre amigos e visitantes. A transmissão oral, através da partilha e do ensinamento de tradições seculares, é seguramente a mais forte e a mais enraizada. Não é por acaso que se assiste a um crescendo do número de jovens que desde tenra idade participam ativamente nas festividades, quer nos ranchos folclóricos e nos grupos de tocadores de concertinas, quer nos cortejos etnográfico e histórico e na procissão. A própria vaidade em envergar o traje regional é de certa forma incutida nas gerações mais novas que orgulhosamente o usam durante as festas concelhias. Para assegurar a sua sobrevivência, o Município de Ponte de Lima (MPL) e a Associação Concelhia das Feiras Novas (ACFN) conjugam esforços para que todos os anos as festas do concelho, enquanto manifestação da identidade e da cultura ponte-limenses, sejam preenchidas por um vasto rol de eventos, de molde a abarcar toda a riqueza e diversidade características da região. Há, igualmente, uma aposta na edição de diversas publicações que visam o estudo e a divulgação do património cultural imaterial de Ponte de Lima. Anualmente, a Associação Empresarial de Ponte de Lima – um dos sócios fundadores da ACFN – lança “O Anunciador das Feiras Novas”, publicação de informação, de cultura e das artes ponte-limenses. E a cada 10 anos é editado “O Arauto das Feiras Novas” que tem como propósito maior a divulgação das celebrações de Nossa Senhora das Dores. A imprensa local assume também um papel preponderante na transmissão das tradicionais festas de Ponte de Lima. Pelo menos, desde a segunda metade do século XIX, a comunicação social da região tem dedicado vários artigos para noticiar o antes e relatar o depois, sendo, ao mesmo tempo, anunciador e avaliador das festividades. São várias as publicações que, ao longo dos tempos, têm feito parte do quadro jornalístico local, mostrando-se reveladoras de informação valiosa e imprescindível para a difusão das Feiras Novas. O jornal ponte-limense mais antigo – “O Lethes” – data de 3 de fevereiro de 1865; ali “encontramos a primeira alusão à Romaria e Feiras Novas, logo a 29 de Agosto, desse ano. (...) O Echo do Lima, O Commercio do Lima, o Jornal do Minho, a Semana, [são outros dos periódicos que acompanham a romaria de Ponte de Lima] até 1900” (Vieira, 2006). Entre as diversas publicações que vão enriquecendo, ao longo de várias décadas, a imprensa local, destacam-se: . “O Lethes” – 1865; . “O Echo do Lima” – 1866; . “Cardeal Saraiva” – 1910; . “Rio Lima” – 1922; . “O Arauto das Feiras Novas” – 1926; . “O Anunciador das Feiras Novas” (I Série) – 1947; . “O Lima” – 1960; . “O Povo do Lima” – 1975; . “O Anunciador das Feiras Novas” (II Série) – 1984; . Entre outros. Atualmente, as Feiras Novas contam com a “palavra escrita” do semanário “Alto Minho”, das revistas “Limiana”, “LimaViva” e “Límia”, assim como dos ainda resistentes semanário “Cardeal Saraiva”, “O Arauto das Feiras Novas” e “O Anunciador das Feiras Novas”. Contam igualmente com a “voz” da “Rádio Ondas do Lima” (ROL) e com o poder mediático dos canais de televisão. De destacar, a este nível, a “Alto Minho TV”, canal de âmbito regional exclusivamente online, que tem dado especial enfoque à difusão do património cultural de Ponte de Lima. Mas há ainda que referir outra ferramenta comunicacional que permite a divulgação e a promoção das festividades a nível global – a internet. Nos dias de hoje é, sem qualquer contestação, o meio de transmissão de informação mais eficaz e de fácil acesso. Aqui são disponibilizados vários sítios e blogues com elementos variados sobre as Feiras Novas desde notícias, artigos de opinião, estudos, vídeos promocionais, entre outros.
    Data: 2016-09-12
    Modo de transmissão oral e escrita
    Idioma(s): Português
    Agente(s) de transmissão: Comunidade ponte-limense, visitantes e todas as entidades que participam ativamente na preparação e realização das festas concelhias.
  • Origem / Historial:
    “Só terá futuro quem souber preservar a sua identidade, souber reconhecer as suas raízes, souber valorizar a sua história, souber defender o seu património e as suas próprias tradições”. (Carlos Pinheiro in Sousa, 2015) Festa maior de Ponte de Lima, arraial popular de participação massiva, momento único de comunhão e convívio, expressão máxima da cultura, da história e da religiosidade do povo ponte-limense. Assim são as Feiras Novas, festividade de génese tradicional – há muito o emblema festivo da vila – que ilustra, por força do seu ecletismo programático, a identidade, a ruralidade, a fé e o património desta região minhota. A sua origem encontra-se associada ao culto a Nossa Senhora das Dores cuja devoção, iniciada no século XVIII, materializa-se na construção de um altar na Igreja Matriz de Ponte de Lima, em 1729, e na consequente celebração litúrgica a cada dia 15 de setembro. Comemoração entretanto alterada pelo Papa Pio VII que, em 1814, fixa a calendarização da festa para o terceiro domingo do referido mês. De ressalvar que, à época, as Festas da Senhora das Dores se restringem unicamente à vertente religiosa. O livro de Conta das Receitas e Despesas da Confraria de Nossa Senhora das Dores “atesta, no entanto, desde 1820, momento em que é iniciada a anotação das contas, a existência de encargos com as festas, que incluíam já, entre outras coisas, a música, os tambores e os honorários do mestre de cerimónias. No ano seguinte, as despesas estendem-se ao fogo (...)” (José Velho Dantas in Vieira, 2006). Movidos por uma profunda devoção à Virgem Maria, mas também pelo desejo de incrementar as transações comerciais operadas na sua feira, os moradores de Ponte de Lima apresentam, em 1825, uma petição a solicitar que a celebração em honra da Santa padroeira tenha a duração de três dias e se realize, anualmente, a 19, 20 e 21 de setembro. A resposta camarária surge a 23 de julho de 1825, em pleno reinado de D. João VI, informando “a Sua Majestade que nada opunha à pretensão dos moradores desta vila quererem três dias de feiras sucessivas (…), isto quando mesmo nenhuma oposição se ofereceu por parte dos moradores da vila que foram ouvidos por edital” (Vieira, 2006). No entanto, o despacho de aceitação do requerimento é apenas emitido no ano seguinte, a 7 de abril, datando de 5 de maio a autorização oficial por Provisão Régia da Chancelaria de D. Pedro IV, cujo excerto se transcreve: “Dom Pedro IV. Faço saber que os Moradores da Villa de Ponte do Lima, comarca de Vianna, Me representarão: Que para promoverem a piedade christaã tinhão feito colocar na Igreja Matriz da dita Villa a Imagem de Nossa Senhora das Dores, e que se festejava no mez de Setembro, e que para se conservar o culto da mesma Senhora: Pedião a concessão de trez dias de feira annual nos designados dias 19, 20 e 21 do mez de Setembro. Visto seu requerimento, e informação do Procurador da mesma camara, com audiência da camara, Nobreza, e Povo que forão ouvidos; constando por tudo, que das ditas feiras resultava vantagens pela promptidão de comprar, e vender os precisos para o uso domestico: Ao que attendendo, e a resposta do Desembargador Procurador da Coroa, que foi ouvido: Hey por bem conceder aos Suplicantes a Graça que suplicão, determinando que nos sobreditos dias 19, 20 e 21 do mez de Setembro de todos os annos se faça feira de todos os generos, mercadorias, e gados na sobredita Villa, e no locál que designarem, mais apto para effeito da mesma, e commodo para todos, ficando salvos os Meus Reaes direitos. Pelo que: Mando ás justiças, e pessoas aquem o conhecimento desta Provisam pertencer, a cumprão e guardem como nella se contem e valerá posto que seu effeito haja de durar mais de hum anno sem embargo da Ordenaçam em contrário (...)”. O documento é anotado no Livro de Registos da Câmara Municipal no dia 7 de junho do mesmo ano, assumindo a festa, dali em diante, a designação de Feiras Novas, nomenclatura escolhida para diferenciá-las das “velhas” feiras quinzenais já mencionadas no Foral de 1125, outorgado pela Rainha D. Teresa. Trata-se seguramente de uma das mais antigas feiras de Portugal. De reiterar que a economia local dependia fortemente das trocas comerciais, sendo a vila de Ponte muito procurada por comerciantes, oriundos de diferentes localidades, graças à riqueza e variedade de mercadorias ali existentes, tais como os produtos da terra, os animais, as alfaias agrícolas e o artesanato. E foi esta afluência de gentes e este dinamismo comercial que ditaram a incorporação de três dias de feira franca nas festas de Nossa Senhora das Dores em 1826. Consequentemente, “as pessoas que se deslocavam (…) a Ponte de Lima [nas festividades] já não o faziam somente pela festa religiosa, mas também pela atividade económica por [elas promovidas]”. Estas feiras anuais, por serem francas, potenciaram o incremento do comércio local e o desenvolvimento económico da região. A “isenção do pagamento de determinados impostos, como as portagens, a que os feirantes estavam sujeitos”, teve, portanto, um peso significativo nessa evolução e na abundância de bens que eram escoados. O facto de as feiras francas se realizarem em setembro, em plena época das colheitas, contribuía para a circulação de uma maior diversidade de produtos. Por conseguinte, esta feira anual, “representava uma mais valia para a vila que, ao prosperar economicamente servia de forma mais adequada os interesses e as necessidades económicas da comunidade limiana” (Barbosa, 2013). Desta combinação de fatores nasce a associação do culto religioso aos três dias de feira franca, dedicada essencialmente à pecuária – gado suíno, bovino e cavalar – e aos produtos da terra, tais como hortaliças e legumes, frutas e cereais, entre outros. Um alargamento temporal que contribui para o fomento do comércio local e, ao mesmo tempo, para um maior sustentáculo da fé. A Irmandade de Nossa Senhora das Dores, sediada na Igreja Matriz de Ponte de Lima, é, naquela época, a entidade responsável pela organização das festividades. Para fazer face às despesas, a Irmandade recorre às esmolas em dinheiro oferecidas por particulares ou depositadas na caixa da Virgem, e ainda através de peditórios que se realizam todos os anos pelas portas dos moradores da vila. As feiras quinzenais também são aproveitadas para a realização destes peditórios. Já no ano de 1826, “o Tesoureiro da Irmandade dá conta das esmolas recolhidas nos três dias, noticiando um razoável aumento das despesas, com a procissão e para a feira (...), assim como com a missa cantada, armação e tambores” (Vieira, 2006). Os festejos, embora marcadamente religiosos, incorporam atos de natureza profana e congregam momentos únicos de convívio e de divertimento. A partir de 1826, “o culto religioso a Nossa Senhora das Dores [adquire] nova expressão com a saída da procissão, mas também o carácter mais profano e festivo do evento [sai] enriquecido com a realização, mais esporádica, de largadas de balões, de bailes de máscaras e de representações teatrais” (José Velho Dantas in Vieira, 2006). A primeira alteração na calendarização das Feiras Novas acontece em 1839. Por razões desconhecidas, é apresentado um “Requerimento do juiz e mesários da Irmandade da Senhora das Dores desta vila pedindo a transferência das feiras dos dias 19, 20 e 21 de Setembro, para 24, 25 e 26 de Julho, e com despacho da Câmara pedirem aprovação da Junta Geral Administrativa” (Livro de Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Sessão n.º 21, 24 de abril de 1839). No entanto, trata-se de um caso excecional, pois no ano subsequente é retomado o calendário original. A feira de setembro, em plena década de 50 do século XIX, pode ser descrita como um local privilegiado, onde aflui uma multidão de pessoas que se concentra “ao longo do areal [e onde se encontra] o concorrido mercado de gado junto à ponte, para montante. As tendas [são] menos espalhadas e preferidas por toldos alinhados e presos por espeques, assim à muralha como às casas, cobrindo as bancas que se [sucedem] umas às outras, dentro e fora dos alpendres. Alguns barcos de água-arriba, que [transportam] os géneros, estão atracados aos talhamares da ponte, aguardando o regresso, no fim da feira (...)” (João Gomes d’Abreu in Vieira, 2006). O certame vai-se mantendo inalterado, em data e em conteúdo programático, figurando na edição de 29 de agosto de 1865 do jornal “O Lethes” – periódico lançado a 3 de fevereiro do mesmo ano – a mais antiga referência às Feiras Novas: “ROMARIA E FEIRAS NOVAS EM PONTE DE LIMA O juiz e mais mesarios da irmandade de Nossa Senhora das Dores d’esta villa, desejando engrandecer quanto seja possivel a festividade da mesma Senhora, e animar a concorrencia aos três dias de feiras francas, que deverão ter lugar aos 19, 20 e 21 do proximo mez de setembro, resolveram para maior publicidade, dar conhecimento aos seus devotos dos festejos propostos para essa ocasião, da maneira seguinte: Haverá no dia 20 vespera da festa ao meio dia, musica de arraial e fogo de ar, e á noite, uma brilhante illuminação, fogo preso, e do ar. Celebrar-se-ha, no seguinte dia a festa da mesma Senhora com missa cantada e exposição, sermão e musica de coro e instrumental. E finalmente, sendo o fim principal d’esta função a reconciliação da mãe de Deus com os homens, escusado será lembrar aos seus devotos as vantagens que a todos provem, quando devotamente com ella nos apegamos.” Uma nova mudança no calendário das festividades tem lugar em 1868 por força de uma intempérie. Efetivamente, as fortes chuvadas que fustigam a vila, nos dias 19 e 20 de setembro, obrigam ao adiamento da festa para 4 e 5 de outubro. Nessas datas realizam-se as celebrações da Senhora das Dores, com missa cantada e sermão, e as tradicionais feiras francas, com feira de gado bovino e cavalar. “Festividade – Fez-se no domingo, na egreja Matriz a festividade solemne em honra da Virgem das Dôres. Os mesarios esmeraram-se pela possivel pompa da festa, e deixaram bom exemplo para os futuros. Houve de manhã missa cantada, com SS.mo exposto, e á tarde vesporas e sermão pelo nosso primeiro orador o rvd.mo Frei Manuel do Amor Divino. Á noute houve fogo do ar e preso, tocando nos intervalos a muito harmoniosa musica – A Nova. Feiras – Nos dias 4 e 5 houve feiras francas, que estiveram muito concorridas de povo e fazendas. A feira de gado bovino reuniu para cima de 3 mil cabeças. Fizeram-se muitas e valiosas transacções. A feira de gado cavalar foi ordinaria, pouco concurrida de alimarias e compradores”. (O Lethes, n.º 384, 6 de outubro de 1868) Em 1884, “as nossas três feiras (...) [são] proibidas, em consequência das ordens terminantes e gerais dadas pelo governo n’esse sentido. (...) Para Viana [parte] uma comissão de negociantes d’esta vila com o fim de fazerem ver ao sr. governador civil que, como a estas feiras não [concorrem] espanhóis, bem [podem] elas efectuar-se porque a cólera, - em nome da qual tinham sido proibidas, - não resulta, nunca resultou da simples aglomeração de gente que não esteja ainda contaminada por aquela epidemia” (Jornal do Minho, n.º 1, 23 de setembro de 1884 in Vieira, 2006). Fica, então, “resolvido que a festa da Senhora das Dores com as suas três feiras, que tinha de ser feita n’esta vila em Setembro, mas que (...) foi proibida, - se faça agora nos dias 26, 27 e 28 do corrente mês d’Outubro” (Jornal do Minho, n.º 4, 14 de outubro de 1884 in Vieira, 2006). A 25 de setembro de 1887 é fundada a Associação dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, que no ano seguinte - a 19 de setembro - se instala na sua primeira sede, localizada no Largo da Matriz. Desde então, os bombeiros ponte-limenses associam o seu aniversário às Feiras Novas e adotam a Nossa Senhora das Dores como sua padroeira. As comemorações da corporação incluem “uma missa solene, a grande instrumental, dirigindo-se da sua estação à igreja matriz com o seu fardamento de gala e a música à frente, para aquele religioso fim” (Cardeal Saraiva, n.º 1918, 9 de setembro de 1960). De ressalvar que, a 18 de abril de 1895, a Associação é agraciada, por carta régia, com o título de “Real”. Curiosamente é a partir de 1888 que a imagem da Senhora das Dores passa a integrar a procissão solene, facto confirmado pela imprensa local da época: «Em 1888, a imprensa noticia a realização de “uma imponente procissão com a Virgem das Dores que como todos sabem nunca sahiu” (A Voz do Lima, n.º 109, 29 de Agosto de 1888). Nos alvores de Setembro daquele ano, o jornal A Voz do Lima voltava a confirmar a saída, “pela primeira vez”, do préstito com a “magestosa e admiravel” imagem da Virgem sobre um “bello e primoroso andor”». (A Voz do Lima, n.º 111, 12 de setembro de 1888 in Vieira, 2006) Mas há outras inaugurações associadas às festas de setembro. Em 1896, por exemplo, nasce o Teatro Diogo Bernardes, cuja cerimónia oficial de abertura tem início a 19 e estende-se até ao dia 23. Desse mesmo ano data o cartaz mais antigo de que há conhecimento das Festas da Senhora das Dores e que serve de inspiração àquele que assinala, em 2016, os 190 anos das festividades. Uma das primeiras novidades introduzidas no programa das Feiras Novas – as Corridas de Touros – surge em 1898. Trata-se de uma tradição cuja origem se perde no tempo, mas que há muito se pratica em Ponte de Lima, apesar de diversas vezes negligenciada e esquecida. Com efeito, são vários os momentos em que as touradas se excluem do programa, acabando mais tarde ou mais cedo por ser retomadas. A última reintrodução acontece em 2014. No ano seguinte, «em 1899 é anunciada uma corrida com doze touros (...). A vila recebeu alvoraçada o curro para as touradas. A ansiedade era tal que “alguns trens repletos de afficionados e varios individuos a cavallo” se deslocaram até à estrada de Tamel de encontro aos “12 animaes de bonita estampa”. A entrada na vila deu-se pouco depois das sete horas. Os animais vaguearam imprudentemente pelas ruas, até que irmanados tomaram a direcção do Jardim da Rainha, “d’onde sem tresmalharem, foram conduzidos para as veigas de Bertiandos, tendo atravessado pacificamente as ruas José Abreu Coutinho, Largo das Pereiras, Calçada dos Artistas, largo de S. João, e rua do Rosário, por entre immenso povo, entre curiosos e individuos suprehendidos, en’uma enorme vozeria do rapazio”» (Loureiro, 1995). A viragem do século brinda-nos com algumas inovações, mas também com certos contratempos. De entre as originalidades destacamos, nos primeiros 50 anos do século XX, o aparecimento do cinematógrafo, o surgimento do “panneau” – espécie de painel luminoso colocado nas margens do Rio Lima –, a instalação da iluminação elétrica e a introdução do desporto, nomeadamente do futebol, do ciclismo e do automobilismo. Em sentido contrário, a decisão de a Irmandade de Nossa Senhora das Dores restringir, em 1906, as celebrações ao interior da Igreja Matriz, resulta na criação de uma comissão de jovens ponte-limenses que assume a responsabilidade de organizar as festas no exterior. No ano seguinte (1907), é introduzida outra novidade programática – a marcha “aux flambeaux” (com archotes) –, organizada pela Associação dos Bombeiros Voluntários. Trata-se de um cortejo noturno composto por vários carros alegóricos, gigantones, Zés-Pereiras, cabeçudos e diversas alas de archotes e balões. Em 1909, as festas são, em parte, adiadas para o domingo seguinte, 26 de setembro, em virtude de uma forte intempérie. Este dia é preenchido por três bandas de música, o habitual arraial noturno, os Zés-Pereiras, as magníficas iluminações distribuídas pelas principais ruas da vila e pelo coreto do Largo de Camões, o “panneau” colocado na margem direita do Rio Lima, que representa “o palacio que o governo brazileiro ofereceu ao português na exposição ultimamente ali realisada” (O Commercio do Lima, n.º 162, 2 de outubro de 1909), e o brilhante fogo de artifício. Um ano depois, a 15 de fevereiro, a imprensa local é enriquecida com o nascimento do semanário “Cardeal Saraiva”, que ainda hoje sobrevive e que dedica, desde sempre, especial atenção às festividades do concelho. Com a Implantação da República, a 5 de outubro de 1910, surgem também os feriados municipais e, a 13 de julho de 1911, “usando das atribuições concedidas pelo artigo segundo do decreto com força de lei de doze de Outubro último, [a Câmara Municipal de Ponte de Lima] deliberou considerar feriado dentro da área do concelho, o dia vinte de Setembro de cada ano, por ser o de maior concorrência e luzimento das festas e feiras francas tradicionais de Nossa Senhora das Dores, realizadas nesta vila nos dias dezanove, vinte e vinte e um daquele mês” (Sessão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 13 de julho de 1911, in Vieira, 2006). Nesse mesmo ano, a organização das Feiras Novas é assumida pelo Pontelimense Club. A edição de 16 de setembro de 1911 do jornal “O Commercio do Lima” apresenta aquela que poderá ser considerada a primeira referência à corrida de cavalos. Para o segundo dia de festas é anunciada uma “feira importante em gado cavalar, original pelas corridas de experiência entre ciganos”. Por deliberação camarária de 17 de outubro de 1912, “as festas em honra da Virgem das Dores, que [costumam] realizar-se em Ponte de Lima nos dias 19, 20 e 21 de Setembro por ocasião das conhecidas Feiras Novas, [são] mudadas (...) para os dias 9, 10 e 11 do mesmo mês e o feriado fixado no segundo dia das festividades” (O Comércio do Lima, n.º 353, 30 de agosto de 1913). A organização fica a cargo da Associação Comercial. É no ano de 1913 que surge na imprensa local a primeira alusão ao concurso pecuário. Na edição de 30 de agosto do Comércio do Lima pode ler-se que nas festas de setembro “haverá um concurso para gado bovino e cavalar, tendo já o governo oferecido a quantia necessaria para os premios, que terão de estabelecer-se”. E na edição de 20 de setembro são apresentados os respetivos vencedores – “os premios da exposição de gado bovino couberam: o 1.º (15:000 réis), á melhor junta de bois, ao sr. Pedro do Lameiro, da freguesia de Jolda, concelho dos Arcos, e o 2.º (10:000 réis), á melhor junta de touros sem dentes novos, ao sr. José Oliveira Martins de Albuquerque, digno administrador dêste concelho, que os fez distribuir pelos seus creados-tratadôres”. Em 1913 e 1914, as condições meteorológicas voltam a comprometer as festividades ponte-limenses: “conforme haviamos noticiado, realizaram-se, nos dias 9, 10 e 11 do corrente, os tradicionais festejos à Virgem das Dôres, que não alcançaram o luzimento que era de esperar...” (O Comércio do Lima, n.º 355, 20 de setembro de 1913). “O mau tempo – causa única da mudança das festas para aqueles dias do mês – também (...) [fez] sentir os seus efeitos [em 1914], quer prejudicando as feiras e os festejos, quer afugentando os turistas e os negociantes (...). Desiludidos pela experiência, somos obrigados a vir a público pedir a reposição das Festas de Setembro nos seus primitivos dias (...)” (Cardeal Saraiva, n.º 163, 17 de setembro de 1914). Assim, as “Feiras Novas voltam à data tradicional [em 1915]. Também o feriado [é] reposto, a 20 de Setembro. Ambas as decisões [são] tomadas em reunião da Câmara Municipal, de 2 de Setembro de 1915” (Vieira, 2006). Ainda nesse ano realiza-se “às 17 horas (...) a anunciada corrida de bicicletas entre esta vila e Arcos, organizada por um grupo de rapazes apaixonados deste sport. Foram 4 os corredores: srs. Francisco Malheiro de Faria, que ganhou o 1.º Prémio, José Pinto e Herculano da Rocha Azevedo, a quem couberam, respectivamente, os 2.º e 3.º Prémios. O corredor Francisco Dantas da Rocha teve de desistir por, na Gandara, a máquina em que montava sofrer uma avaria (...)” (O Comércio do Lima, 26 de setembro de 1915 in Vieira, 2006). Logo após a Grande Guerra de 1914-1918, tem lugar a primeira interrupção das touradas, que apenas se retomam em 1921. No ano de 1919, o semanário “Cardeal Saraiva” edita um folheto intitulado “Festas e Feiras Novas de Nossa Senhora das Dores nos dias 19, 20 e 21 de setembro em Ponte de Lima”. Trata-se de uma “brochura, a 3 cores, com 14 páginas, alusiva às festas, com programa, publicidade e pequeno texto introdutório, impressa na Tipografia Confiança” (Vieira, 2006). Mais tarde, em 1921, além da já referida recuperação do espetáculo tauromáquico, realiza-se uma “exposição de arte antiga e tapetes da importante fabrica de Beiris” (Cardeal Saraiva, n.º 481, 15 de setembro de 1921), que está patente ao público durante as Feiras Novas na antiga Assembleia Limarense, à época localizada no palacete situado no cimo da Rua Formosa, no centro histórico de Ponte de Lima. A mostra, que preenche um total de quatro salões, é composta por colchas, faianças, peças de mobiliário, utilidades e decoração, joias, pratas, imagens e ourivesaria religiosas, telas e gravuras, leques, entre outros objetos de arte regional. Aparentemente por falta de verbas, as festas de 1922 ficam severamente comprometidas, realizando-se apenas as duas touradas e a feira franca do dia 19. O mesmo acontece em 1924. Os festejos contam apenas com a primeira feira franca, com a presença dos Zés-Pereiras e de uma banda de música, e com uma sessão de cinema na última noite. São igualmente lançados alguns foguetes na vila de Arcozelo (Além da Ponte) em claro sinal de protesto e de provocação. Passam-se 100 anos e Ponte de Lima assinala o 1.º Centenário das “Festas e Feiras Francas de Nossa Senhora das Dores”. O programa de 1926 das festividades ponte-limenses contam com uma panóplia de eventos que, ao longo de três dias, enche a vila de alegria, esplendor e religiosidade. A primeira feira franca abre com salvas de foguetes e com um efusivo grupo de Zés-Pereiras. É de salientar que a feira de setembro é “uma das mais importantes do Minho, pelas suas multiplas transações em gado, principalmente bovino e cavalar”. Às 7 horas da manhã, arranca a procissão com a imagem de Santa Teresa do Menino Jesus rumo à Igreja Matriz. Nesse mesmo dia, a Associação dos Bombeiros Voluntários celebra o seu 38º aniversário com a realização de uma missa e “ás 17 horas, saída da igreja Matriz, [percorre) as principais ruas da vila UMA MAGESTOSA PROCISSÃO em que [é] patenteada a nova imagem de Santa Teresa; [encorporam-se] todas as irmandades concelhias sendo feita guarda de honra por um grupo de 60 Escoteiros catolicos de Braga, acompanhados da sua banda de musica. Ao recolher da procissão, na mesma igreja, [ouve-se] um sermão confiado a um dos melhores oradores sacros do país”. A festa é animada pelas quatro bandas de música distribuídas pelos diversos coretos localizados em diferentes pontos da vila. A primeira noite é preenchida por um festival de música, pela quermesse e por fogo de artifício, encerrando com uma “ATRAENTE MARCHA LUMINOSA composta dum numeroso cortejo de figuras movimentadas, carros alegoricos e outros numeros de verdadeiro interesse”. A segunda feira franca, conhecida como a feira das trocas, é igualmente abrilhantada com foguetes, muita música e com os Zés-Pereiras devidamente acompanhados pelos Gigantones e Cabeçudos. “É este o dia mais notável dos festejos pelo que foi consagrado como feriado municipal”. O programa inclui ainda as habituais bandas de música e a partir das 15 horas assiste-se ao Baile regional, também designado por Baile da Espadelada. A noite é ocupada com o arraial, a continuação da quermesse, as desgarradas, a música, os bailes populares, os balões e o fogo de artifício. As ruas principais são “iluminadas a capricho, destacando-se o paneau da margem direita do rio, representando a antiga ponte sobre o Lima”. As festas terminam com a terceira feira franca, dedicada às festividades religiosas em honra de Nossa Senhora das Dores, que incluem a “missa cantada a grande instrumental, exposição do SS. Sacramento e sermão (...)”. A noite oferece aos romeiros, “na Praça de Camões, [a conclusão] da quermesse e um GRANDE FESTIVAL [que dão] fim ás mais importantes festas do concelho” (Cardeal Saraiva, n.º 700, 15 de setembro de 1926). Em jeito de homenagem, é lançado “O Arauto das Feiras Novas – publicação anual de propaganda, que inseria, além de vários anúncios, um artigo literário e programa das (...) Festas e Feiras Francas, em honra de N. Senhora das Dores” (Vieira, 2006). O programa de 1927 dedica-se particularmente ao desporto, através da realização da I Corrida da Rampa da Madalena – prova de automobilismo –, de dois jogos de futebol (o primeiro disputado entre o Triunfo S. C. e o Sporting C. de Braga, e o segundo entre o Lusitano F. C. e o Sport Club Vianense) e de uma gincana. Assiste-se, novamente, à Procissão de Santa Teresa. Em 1929 é constituída uma comissão de festas composta por um representante de cada uma das seguintes instituições: Câmara Municipal, Associação Comercial, Associação dos Bombeiros Voluntários, Grémio Operário, Associação de Socorros Mútuos e Associação dos Empregados do Comércio. É, principalmente, a partir deste ano que o município assume um papel preponderante, marcando presença assídua na organização das Feiras Novas e incrementando o seu apoio financeiro. No mesmo ano, realiza-se uma procissão de velas com as imagens de Santa Maria Madalena e de Cristo Crucificado e assiste-se a uma peregrinação ao Monte da Madalena com os seus andores e o de Nossa Senhora de Fátima, que se repete novamente no ano seguinte com a introdução de uma missa campal. Em 1930 é igualmente promovido um “Concurso de gado bovino barrosão (...) pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal” (Cardeal Saraiva, 15 de setembro de 1930 in Vieira, 2006). A procissão em honra de Nossa Senhora das Dores regressa em 1931. Dela fazem parte um número significativo de anjos e de figuras alegóricas, que representam as sete dores da Mãe de Cristo. No entanto, nos anos que se seguem, volta a perder protagonismo, a avaliar pela ausência de qualquer alusão na imprensa local. Em 1934 surge no programa das Feiras Novas a primeira referência aos grupos folclóricos, assistindo-se dois anos depois às atuações do Rancho Regional das Rendilheiras de Vila do Conde e dos Pauliteiros de Nevogilde, da Foz do Douro. Mudanças significativas ocorrem no ano de 1937. A comissão de festas decide, juntamente com a Câmara Municipal, transformar oficialmente as Feiras Novas nas Festas do Concelho e transferir as suas festividades para o terceiro fim de semana de setembro. O feriado municipal mantém-se ao dia 20. Dez anos mais tarde, em 1947, é lançada outra publicação anual dedicada às festas de Ponte de Lima – “O Anunciador das Feiras Novas”. Esta primeira série é de curta duração, sendo constituída por apenas dois números. Outra alteração fundamental surge em 1954 – a segunda-feira passa a ser definitivamente o último dia das Feiras Novas, fixando-se o calendário oficial das festas no sábado, no domingo e na segunda. Na imprensa local, é novamente anunciada a realização de um concurso pecuário. No ano seguinte, assiste-se a um Grupo da Espadelada, “que procurou reeditar uma velha tradição festiva dos folguedos sanjoaninos” (Cardeal Saraiva, n.º 1725, 22 de setembro de 1955). Depois de um certo apagamento, a procissão de Nossa Senhora das Dores é finalmente reavivada, em 1956, pela mão de D. Carlos Pinheiro, futuro Bispo Auxiliar de Braga, trazendo de volta todo o seu esplendor e relevância, enquanto manifestação maior da fé do povo ponte-limense. Essa reintrodução é confirmada pelo semanário “Cardeal Saraiva”, na sua edição de 27 de setembro desse mesmo ano: “No [passado] dia 17, consagrado a festividades religiosas, saiu uma pomposa procissão de N. Senhora das Dores, como outrora se realizava, agradando plenamente pelo seu variado e impecável figurado, do qual faziam parte representações de inúmeras freguesias do nosso concelho.” Em 1958, assiste-se a um concurso de Ranchos Folclóricos de Santa Marta e o programa do ano seguinte (1959) dá lugar a “um gracioso Festival Folclórico, com a colaboração dos Ranchos de Dem – Caminha; de Miguel Dantas – Coura; de Gândara – P. de Lima; e do Grupo Folclórico Camponês, de Bico, Coura”. Desde então, os ranchos são presença assídua nas festas concelhias. É curioso que, na edição de 28 de agosto de 1958, do semanário Cardeal Saraiva, já se fala da necessidade e importância de se promover um festival de folclore. Nesse mesmo ano, “realiza-se na Alameda de S. João uma interessante Corrida de Cavalos, com valiosos prémios para os vencedores”. A década de 60 é palco de uma das novidades mais marcantes – a introdução do Cortejo Etnográfico no programa de 1964. Aqui, é-nos apresentado um retrato fiel das tradições, dos usos e costumes da região, do artesanato e gastronomia, dos principais ofícios, dos trajes regionais, das danças e cantares. “O reportório do desfile é um mosaico da vida rural, evocando as lides que se repetem há séculos nas veigas do Lima e do Neiva, nos prados e nos milheirais” (Humberto Lopes in Vieira, 2006). No primeiro cortejo, figura o célebre “boi bento”, “animal escolhido pela gordura, beleza e corpulência entre o gado de soga, levando alto jugo enfeitado a verdes, laranjas e espelhinhos redondos da feira, e plumas” (Augusto de Castro e Sousa in Vieira, 2006). Ao longo dos tempos, são recriadas várias tradições ponte-limenses, nomeadamente a Vaca das Cordas, o Jogo do Cântaro e a Serrada da Velha. Em 1965 realiza-se o 1.º Festival Luso-Galaico de Folclore com a participação dos Ranchos Folclóricos da Correlhã, das Lavradeiras de S. Martinho da Gandra, de Bravães, do Grupo da Casa do Povo de Barcelinhos, do Grupo Folclórico de Afife, do Grupo Dr. Gonçalo Sampaio, e do Grupo de Danzas de la Seccion Femenina de Orense – Espanha. Em 1968, o estado do tempo volta a comprometer os festejos, provocando uma das piores cheias alguma vez registada nas Feiras Novas. As fortes chuvas que caiem durante o dia de sábado fazem com que, no domingo, a água do rio invada o areal, onde se localizam várias diversões e carrosséis, e o passeio da marginal, apanhando todos de surpresa e causando sérios danos e avultados prejuízos aos feirantes e comerciantes locais: “O rio Lima aumentou assustadoramente de volume. À chuva, copiosa, aliaram-se as enxurradas do Soajo e Lindoso. Não demorou muito que as águas inundassem o areal, onde se encontravam, além de outras diversões, um circo, duas pistas de automóveis, um carrossel, bem como o passeio General Carmona, pejado de barracas de quinquilharias, comes-e-bebes, etc. Mercê do inesperado acontecimento, os barraqueiros tentaram salvar o que lhes foi possível. No entanto, a força das águas era mais forte e eles tornaram-se impotentes. Parte dos objectos expostos à venda – o seu ganha pão – foram levados pela impetuosa corrente. Viveram-se, então, horas dramáticas. Aliás, percebe-se isso a quem tivesse observado o areal e locais próximos: um quadro de ruína. Não só os feirantes, os mais atingidos com a inundação, viveram esses momentos dolorosos marcados pelo destino”. (O Primeiro de Janeiro, 23 de setembro de 1968 in Vieira, 2006) No ano subsequente (1969), assiste-se, pela primeira vez, no Parque da Villa Moraes, no dia 19, a um Festival Popular da Desgarrada, com “cantigas ao desafio pelos afamados cantadores: Manuel Alves (o Peta) de Vila Verde; João Brito Mota da Correlhã (Ponte de Lima); Narciso Ribeiro de Castro de Ponte da Barca; Rosa de Sousa de Vila Verde; Francisco Ferreira Noversa (O Xico Noversa) de Braga; Manuel Fernandes Laranjo (o Pimenta) da Seara (Ponte de Lima); Joaquim de Sousa (o Cachadinha) do Barrio (Ponte de Lima); e Manuel Cerqueira (o Rio Frio) dos Arcos de Valdevez”. Dois dias depois, no mesmo local, tem lugar o I Torneio de Jogo do Pau, uma “interessante demonstração de arte e valentia das gentes do Minho, nomeadamente: Manuel Grilo de Vila Verde; Adelino Bago Rabeca de Ponte de Lima; António Gomes Folha de Vila Verde; António Brito Gomes de Ponte de Lima; António Lopes de Vila Verde; Manuel Fernandes Araújo de Vila Verde; António Marques da Fonseca (o 25) de Ponte de Lima; e Rosa dos Santos de Vila Verde” (Vieira, 2006). Os anos 70 são também pautados por algumas estreias. A mais relevante é a introdução, em 1971, do Cortejo Histórico que nos dá a conhecer as origens e o passado da vila de Ponte de Lima. O guião original, da responsabilidade do Padre Manuel Dias, está dividido em vários temas e períodos da história ponte-limense, tais como a fundação da vila e sua feira (1125), a ponte e o castelo (1359), a tomada da vila aos castelhanos (1385), a renovação do Foral por D. Manuel I (1511), a ovação de D. António, Prior do Crato (1580), a aclamação de D. João IV (1640), D. João V e a procissão do Corpus Christi (1725), D. Pedro IV e a autorização das Feiras Novas (1826), D. Maria II e a atribuição do título de “MUI ANTIGA E LEAL VILA” (1841), a visita de D. Luís Filipe e seu aio Mouzinho de Albuquerque (1901), a aclamação da República (1910), terminando com o desfile dos limianos notáveis – de que se destacam o insigne Cardeal Saraiva e o ilustre António Feijó – e das instituições locais. “O Cortejo Histórico é (…) uma forma de expressão que pretende dar a conhecer os momentos mais significativos da história de Ponte de Lima, envolvendo os limianos na caracterização dos seus antepassados” (Livro da Comissão de Festas in Vieira, 2006). Aqui, procura-se aliar as artes performativas à história local. Outra novidade programática prende-se com a realização, no último dia das festas, de um arraial noturno, também designado por verbena popular, no atual Largo de Camões. No ano seguinte (1972), tem lugar uma exposição de arte, no Largo de Camões, que conta com a participação dos artistas José Dantas, Rogério Martins, Júlio Alberto, João Luís, Vítor Barros, António Melo, José Pedro e Lacerda. Após longos anos de ausência, as Corridas de Touros são novamente introduzidas no programa das Feiras Novas de 1975. Entretanto, em 1980, o cortejo etnográfico é substituído pela “Batalha das Flores”, “interessante desfile de carros ricamente engalanados” (Cardeal Saraiva, n.º 2887, 5 de setembro de 1980). No entanto, e apesar de o evento ter sido unanimemente aceite pela população, não volta a ser realizado. A partir de 1983, a organização das Feiras Novas fica a cargo da Associação Empresarial de Ponte de Lima. Nesse ano, realiza-se uma Exposição Fotográfica sobre a vila ponte-limense que conta com a participação de Amândio de Sousa Vieira e de António Carlos Matos e que inclui, ainda, uma mostra de pintura de Rui Alpoim e a apresentação do livro de poemas intitulado “Sentimento da Ausência” da autoria de Amândio de Sousa Dantas. Em 1984, é lançada a segunda série da publicação anual “O Anunciador das Feiras Novas”, que se mantém até aos dias de hoje. Além dos eventos habituais, realiza-se um torneio de tiro aos pratos e um espetáculo de variedades. O primeiro centenário da Associação dos Bombeiros Voluntários é assinalado em 1987, no domingo de Feiras Novas, com um “Desfile de Fanfarras [em que participam os] Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, Guimarães, S. Mamede de Infesta e Matosinhos/Leça da Palmeira”. Na terceira e última feira franca realiza-se, como habitualmente, a “imponente procissão com muito figurado alegórico, Confrarias, Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima e Associações Locais” (O Anunciador das Feiras Novas, n.º 4, 1987). No ano que se segue – 1988 – o Cortejo Histórico é substituído por um Desfile das Fanfarras de Coimbrões, Vila do Conde, Guimarães, São Mamede de Infesta, Matosinhos/Leça da Palmeira, Ponte de Lima e do Grupo de Majoretes de Alcobaça. Assiste-se, igualmente, a um espetáculo de variedades que conta com a presença de vários artistas de renome, designadamente Marco Paulo, Cândida Branca Flor e Sandra Marisa. A década de 90 apresenta também algumas inovações. Destaca-se o aparecimento, no cartaz programático, das Tunas e dos Fados. Em 1990, “no dia 14 (Sexta-Feira) a Câmara Municipal oferece à População da Vila um SARAU DE ARTE no adro da Capela das Pereiras, pelas 20 horas, com a participação do Orfeão do Casino de Carvallino (Espanha), Orfeão Limiano, Tuna Académica da Universidade do Minho, Grupo de Música Popular da U.M. e o Grupo de Fados de Coimbra, da Universidade do Minho” (O Anunciador das Feiras Novas, n.º 7, 1990). Assiste-se, igualmente, a um torneio de tiro aos pratos, a um desfile de Fanfarras e a um espetáculo de variedades. E, no ano seguinte, é organizada uma Serenata, na escadaria da Capela das Pereiras, que conta com a presença do Orfeão Limiano, da Tuna Académica da Universidade do Minho e da Tertúlia do Fado de Coimbra. As Feiras Novas estão associadas à abertura de mais dois espaços municipais – a 19 de setembro de 1993, são inauguradas as Piscinas e a Biblioteca Municipal, ambas presididas pelo primeiro-ministro da altura, o Professor Cavaco Silva. Em 1994, numa espécie de revivalismo das antigas muralhas, é construída uma réplica em madeira da Torre Velha que existia à entrada da ponte medieval do lado de Arcozelo: “Foi com [o] objectivo, de pôr em discussão pública uma questão de interesse cultural para todos os limianos, que gerasse polémica e sensibilizasse os menos atentos, às razões do nosso património, que a Comissão de Festas de 1994 decidiu, em boa hora, levar a efeito, a título evocativo, a construção tão exacta quanto possível de uma réplica em madeira da Torre Velha no mesmo local onde esteve erecta”. (A Torre Velha de Ponte de Lima in Vieira 2006) O ano de 1998 abre as portas ao Festival Internacional de Folclore, que tem como palco a Alameda de S. João e que conta com a participação do Rancho Folclórico da Correlhã (Ponte de Lima), do Rancho Folclórico do Ourando (Covilhã), do Grupo Folclórico das Lavradeiras de Parada de Gatim (Vila Verde), do Grupo dos Sargaceiros da Casa do Povo da Apúlia (Esposende), do Grupo Folclórico de Agarimo de Torneiros (Pontevedra – Espanha), e do Rancho Folclórico de Serdedelo (Ponte de Lima). Nos anos seguintes, assiste-se novamente ao Festival Luso-Galaico. A comissão de festas de 1999 decide apostar na criação da marca das “Feiras Novas” e também de uma mascote que represente, de forma genuína, a verdadeira essência das festas limianas. Assim, nasce a gigantone “Matilde” pelas mãos da designer Madalena Martins. Com a entrada no século XXI, é instituída, a 16 de janeiro de 2001, por escritura pública, a Associação Concelhia das Feiras Novas, cujo objetivo fundamental é conceder à comissão de festas uma maior autonomia, respeito e profissionalismo. A sua missão prende-se com a “organização e promoção de festas e outros eventos culturais e recreativos, nomeadamente a organização e realização das festas concelhias, tradicionalmente denominadas Feiras Novas” (Constituição de Associação, 2001). A associação é composta pela assembleia geral, pela direção e pelo conselho fiscal. De acordo com o regulamento e os estatutos, a presidência da direção é, por norma, assumida pelo vereador da cultura do município em funções, sendo os restantes membros indicados pela Câmara e pela Associação Empresarial. Estas duas entidades constituem os seus sócios fundadores e os seus corpos sociais são eleitos anualmente. Em 2002, o semanário “Cardeal Saraiva” lança o I Concurso de Quadras Populares das Feiras Novas. O 1.º prémio cabe a Camilo Alves (Casimiro Pereira Alves), de Calheiros – Ponte de Lima: “Se fores a Ponte de Lima À noite ao fogo do meio, Traz o meu amor p’ra cima Que foi Sexta e inda não veio...” Nesse ano, assiste-se ao Festival Limiano de Folclore, que conta exclusivamente com a participação de grupos do concelho de Ponte de Lima, tais como a Escola Infantil de Folclore da Correlhã, o Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Ponte de Lima, o Grupo de Danças e Cantares do Neiva – Sandiães, e o Grupo de Danças e Cantares de Ponte de Lima. A Tourada à Portuguesa sofre novo interregno, realizando-se, pela última vez, em 2002. A tradição será recuperada anos mais tarde. O concurso pecuário, que habitualmente se realizava no Largo da Feira, ganha novas instalações em 2006 – a Expolima. Este espaço inovador, situado numa zona mais periférica, representa uma melhoria significativa das condições espaciais e higio-sanitárias da feira do gado. Excecionalmente realiza-se em 2007 um Desfile Taurófilo, seguido de Tourada na Expolima: “após o desfile da tradição taurófila em Ponte de Lima, nada melhor que uma excelente corrida de touros, com um cartel de luxo. Pela primeira vez este novo espaço recebe uma tourada que ficará na memória colectiva da urbe. E que touradas houve em Ponte de Lima, que marcaram várias épocas” (O Anunciador das Feiras Novas, n.º 24, 2007). Em 2008, assiste-se à Descida das Feiras Novas organizada pelo “Clube Náutico de Ponte de Lima aliando-se [desta forma] à festa e dando resposta aos amantes da natureza e das maravilhosas paisagens que se desfrutam desde S. Martinho da Gandra até à vila, [proporcionando] uma entrada em canoa nas Feiras Novas” (O Anunciador das Feiras Novas, n.º 25, 2008). Pela primeira vez, promove-se o Desfile do Folclore, que antecede o Festival, momento em que cada grupo recebe a fita que é colocada no estandarte, sendo de seguida encaminhado para o palco onde vai atuar. É, igualmente, no programa de 2008, que surge a primeira referência ao desfile do concurso pecuário, no qual todos os animais vencedores, acompanhados pelos respetivos produtores, percorrem a Alameda de S. João até ao Largo de Camões regressando novamente à Expolima. A última mudança na calendarização das Feiras Novas acontece em 2009. A Associação Concelhia decide, em comum acordo com o município, realizar as festas do concelho no segundo fim de semana de setembro, de forma a não interferirem com o início do ano letivo, tão-pouco com a época das vindimas, deliberando transferir o feriado municipal para a terça-feira imediatamente a seguir. Assim, a 10 de agosto, a Câmara Municipal de Ponte de Lima submete à aprovação da Assembleia Municipal estas alterações, que são aceites, produzindo efeitos a partir de 2010. Destino equestre de excelência, Ponte de Lima promove em 2011 o Torneio Feiras Novas de Horseball, acolhendo a Liga de Campeões da modalidade no espaço da Expolima, devidamente equipada com dois picadeiros. Em resposta à sua inegável fama e expressiva afluência, o programa das Feiras Novas é alargado, em 2012, para os três dias antecedentes, criando-se, assim, uma espécie de pré-festa. Desta forma, as Festas do Concelho passam a ter uma duração total de seis dias, de molde a abarcar todos os eventos e a acolher um número cada vez mais acentuado de visitantes. É também neste ano que é lançada uma aplicação multimédia – APP Feiras Novas – desenvolvida pela empresa Cordelima, que serve de guia da festa, com indicação do itinerário festivo, do programa e de várias informações úteis. Mais tarde, em 2014, a APP Feira Novas passa a ser da responsabilidade da firma FTKode, apresentando novos conteúdos, mais completos e diversificados. É, portanto, considerada a aplicação oficial das Feiras Novas. Outra novidade de 2014 é a introdução, no cartaz programático, da Abertura Solene das festas na noite de quarta-feira, uma espécie de cerimónia oficial para assinalar o início das celebrações, que tem lugar no coração do centro histórico – o Largo de Camões. Neste ano, assiste-se a um espetáculo multimédia de Videomapping e, em 2015, há lugar a uma performance acrobática, musicalmente acompanhada por um grupo de tocadores de concertina, considerada a alma das Feiras Novas. Este ano é igualmente marcado pela estreia do Summer Music Fest na Expolima, que oferece a todos os festeiros uma alternativa musical mais moderna. O Cortejo Histórico, que nesse ano assinala os 890 do Foral de Ponte de Lima, conta, pela primeira vez, com a participação de vários grupos de teatro do concelho, tais como os “Unhas do Diabo”, o “Duplaface Companhia das Artes”, o “Gacel”, “Os Gorilas”, o “Grupo de Teatro da Facha”, o “Grupo de Teatro da Casa do Povo de Freixo”, e os “Pequenos Atores do Lima”. A introdução destes grupos vem engrandecer e dinamizar ainda mais o evento, criando uma maior interatividade com o público. Em 2016 assinalam-se os 190 anos de vida das Festas do Concelho que enchem de orgulho o povo ponte-limense. A espera parece longa, mas quando chegam as Feiras Novas nada mais importa. É festa de noite e de dia e cada segundo é vivido intensamente, pois ela espelha, de forma espontânea e genuína, a essência limiana, a sua identidade e a sua alma. Um ano mais tarde, a Associação Concelhia das Feiras Novas consegue conquistar o recorde do Guiness com a maior concentração de concertinas a executar a mesma melodia em simultâneo – “Ó Linda Rosinha” – reunindo na sessão de abertura de 2017 um total de 897 tocadores. Assiste-se, em 2018, à realização dos primeiros concursos a nível nacional de galinhas de raças autóctones e da raça garrana em Ponte de Lima, com o objetivo de estimular a criação e a preservação destas espécies. Quase um século depois, as festas concelhias voltam a ficar comprometidas em consequência da crise pandémica de Covid-19 que obriga ao cancelamento das Feiras Novas de 2020. No ano seguinte, as festividades regressam, mas em formato condicionado, cumprindo-se apenas alguns eventos, nomeadamente os concertos, as arruadas, a missa solene e a procissão em honra da padroeira, mas em automóvel. Finalmente, em 2022, as Feiras Novas recuperam todo o seu esplendor, retomando-se a pleno a programação habitual que granjeia, uma vez mais, a participação massiva da comunidade local, assim como de forasteiros. Nesse ano destaca-se, pela novidade, a inclusão do Concurso de Ovinos de Raça Bordaleira de Entre Douro e Minho e de Raça Churra do Minho na manhã da Primeira Feira Franca – sábado. “Quem vem às Feiras Novas, com toda a certeza volta, quem na festa participa, não mais a esquece”. (Gonçalves, 2008)
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Direito consuetudinárioOs direitos coletivos associados às Feiras Novas são de natureza consuetudinária, pois encontram a sua sustentação na prática comum e constante das tradições ponte-limenses. Trata-se, portanto, de um direito baseado nos usos e costumes de um povo, que não estão escritos, nem codificados, mas que são aceites como lei. Pelo menos desde finais do século XIX, a festa e feira franca em honra de Nossa Senhora das Dores apresenta-se como um comportamento regular que é observado no mesmo local e pelas mesmas gentes, dando lugar a uma inegável perpetuação e a uma fiel transmissão, de geração em geração, de importantes valores e hábitos sociais, culturais e religiosos. Esta é uma das heranças populares mais estimada e respeitada, pois, ela é, acima de tudo, uma marca da identidade de uma população que se orgulha das suas raízes, da sua história e do seu património. Comunidade ponte-limense
    Direito CanónicoA Fábrica da Igreja da Paróquia de Santa Maria dos Anjos de Ponte de Lima está envolvida, enquanto principal responsável, nas celebrações e festividades religiosas das chamadas “Feiras Novas”. Estas celebrações fazem parte da prática de fé e cultura da comunidade paroquial ponte-limense, bem como de todos os fiéis que nelas participam. As celebrações religiosas são um elemento integrante do Património Cultural Imaterial associado a estas festividades, pois nelas e a partir delas se transmite uma fé sedimentada historicamente nesta comunidade, marca identitária da sua cultura. Esta manifestação é importante para a população local, mas principalmente para os seus paroquianos, assim como para todos os crentes provenientes de outras zonas do país e do estrangeiro que acorrem às festividades em honra de Nossa Senhora das Dores para reforçar a sua fé e aplacar as suas aflições e dificuldades. Igreja Católica
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Eduarda de Arrochela Lobo
    Função: Antropóloga
    Data: 2016-09-12
    Declaração de compromisso
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
Logo Por Lisboa Logo QREN Logo FEDER