Ficha de Património Imaterial

  • N.º de inventário: PROC/0000000169
  • Domínio: Práticas sociais, rituais e eventos festivos
  • Categoria: Festividades cíclicas
  • Denominação: Festa do Colete Encarnado
  • Contexto tipológico: Festividade popular de Vila Franca de Xira celebrativa da cultura dos campinos e da reunião da margem norte urbana e sul rural do Tejo.
  • Contexto social:
    Comunidade(s): Campinos; Tertúlias de Vila Franca de Xira
  • Contexto territorial:
    Local: Vila Franca de Xira
    Concelho: Vila Franca de Xira
    Distrito: Lisboa
    País: Portugal.
    NUTS: Portugal \ Continente \ Lisboa \ Grande Lisboa
  • Contexto temporal:
    Periodicidade: A Festa do Colete Encarnado é realizada anualmente no mês de julho.
    Data(s): Primeiro fim de semana de julho.
  • Caracterização síntese:
    A Festa do Colete Encarnado realiza-se anualmente no primeiro fim de semana de julho em Vila Franca de Xira. São três dias festivos (da noite de quinta-feira à de domingo) pontuados por eventos performativos, musicais e culturais no intuito de celebrar a cultura dos campinos e, de maneira geral, a reunião das duas margens do Tejo – a norte urbana e a lezíria rural ao sul. A identidade da Festa do Colete Encarnado reside principalmente nos eventos campinos – assegurados pelos campinos e dependentes da transmissão intergeracional do ofício de campino no seio da família – e na festa de rua – assegurada pelas tertúlias e dependente da transmissão intergeracional da afición no seio da comunidade. A continuidade da Festa do Colete Encarnado é, portanto, tributária da continuidade dessas duas comunidades. Contudo, se a comunidade das tertúlias de Vila Franca de Xira tem sua continuidade garantida pela sua afición, a continuidade da comunidade dos campinos está intrincada na continuidade da própria Festa do Colete Encarnado que favorece (i) a transmissão intergeracional de práticas e conhecimentos do ofício de campino, (ii) a socialização e rutura do isolamento social inerentes ao ofício, (iii) o aprimoramento individual dos campinos, (iv) a valorização social do campino, e (v) a reposição geracional da comunidade dos campinos.
  • Caracterização desenvolvida:
    A Festa do Colete Encarnado é uma festividade popular de Vila Franca de Xira organizada anualmente sob a égide da Câmara Municipal para celebrar a cultura dos campinos e a reunião das duas margens do Tejo – a norte urbana e a lezíria rural ao sul. A Festa é um reflexo do comprometimento da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira em promover a cultura e tradições regionais ribatejanas. PROGRAMAÇÃO A Festa do Colete Encarnado ocorre no primeiro fim de semana de julho e a sua programação desenvolve-se ao longo de três dias (da noite de quinta-feira à de domingo). Ela inicia-se tradicionalmente pelo jantar das tertúlias na quinta-feira e encerra-se na noite de domingo com fogos de artifício lançados do Tejo e, entre os dois, oferece ao público presente uma miríade de eventos taurinos, musicais, folclóricos e culturais. Durante o dia, o público pode apreciar animações itinerantes, feiras de velharias e artesanato, ranchos folclóricos (especialmente de fandango e sevilhanas), exposições e eventos campinos. À noite, a programação oferece uma larga escolha de concertos de géneros musicais variados, da música popular portuguesa à música pop internacional. Ao lado da programação oficial, o público pode também desfrutar da festa de rua promovida pelas inúmeras tertúlias do Concelho de Vila Franca de Xira. Os eventos campinos e a festa de rua são a coluna vertebral e a marca de identidade da Festa do Colete Encarnado. EVENTOS CAMPINOS Os eventos campinos dividem-se em duas categorias – os performativos e os celebrativos – e têm por intuito honrar o campino e sua profissão. Os eventos campinos performativos são as esperas e largadas de touros e as corridas de campinos e permitem a demonstração da destreza e proezas dos campinos no maneio de touros e cavalos. A espera e a largada de touros constituem um ponto culminante do calendário da Festa do Colete Encarnado, um momento de grande proximidade entre os campinos e o público. Elas ocorrem tanto na sexta-feira, como no sábado e no domingo e têm por intuito recordar as grandes transumâncias do gado – da margem sul, acentuadamente rural, para a margem norte com uma configuração mais urbana – aquando das grandes feiras. Touros bravos cercados por cabrestos (boi manso) são conduzidos por campinos a cavalo através das ruas da cidade para, em seguida, serem largados, um a um, num percurso delimitado. O público abriga-se atrás de barreiras e proteções, salvo os mais temerários que se aventuram no percurso para atiçar os touros. A corrida de campinos ocorre tradicionalmente aos sábados. Ela consiste numa competição equestre entre campinos participantes que devem demonstrar perícia na execução de um circuito traçado. A competição realiza-se na praça de touros de Vila Franca de Xira – a Praça de Touros Palha Blanco – ou na esplanada a frente e o público pode apreciar a destreza de campinos no maneio do cavalo. Os circuitos variam de ano para ano e a corrida dá lugar a uma competição entre seus participantes com direito à premiação ao fim de cada edição. Os eventos campinos celebrativos são a homenagem ao campino, a concentração e deposição de flores no monumento ao campino e o desfile dos campinos. Esses eventos ocorrem tradicionalmente aos sábados e são mais introspetivos de que os eventos performativos. A carga simbólica e afetiva é forte para a comunidade dos campinos. A homenagem ao campino tem por intuito homenagear um campino pela sua história e trajetória de comprometimento com a comunidade e a profissão. O campino homenageado é condecorado com um pampilho (bastão comprido para guiar o gado) de honra em nome de um campino falecido inscrito em seu aguilhão. Assim, o pampilho de honra é uma homenagem viva e póstuma simultaneamente, simbolizando a continuidade do ofício e da comunidade. O campino homenageado e a homenagem póstuma são ambos escolhidos pela comunidade dos campinos que excecionalmente pode atribuir o nome do pampilho a uma personalidade falecida do mundo taurino, outro que um campino, desde que apreciada sua contribuição para a comunidade. A entrega do pampilho de honra tem lugar nos Paços de Concelho e é acompanha pela execução do hino de Vila Franca de Xira, apenas tocado nessa ocasião. A concentração dos campinos e a deposição de uma coroa de flores no monumento ao campino tem por intuito homenagear a memória da comunidade e os antepassados, assim como a relação da comunidade com Vila Franca de Xira. Campinos a cavalo concentram-se no monumento ao campino onde o último campino homenageado e o campino a ser homenageado, acompanhados pelo Presidente da Câmara, depositam uma coroa de flores. Após a deposição da coroa de flores, os demais campinos perfilam a cavalo em volta do monumento para também prestarem a homenagem. O monumento ao campino é uma escultura de bronze representando um campino a cavalo a manejar um touro com um pampilho. O monumento foi erguido pela comunidade tertuliana vila-franquense e tornou-se um símbolo de Vila Franca de Xira expressando a ligação do campo à cidade. No desfile dos campinos, campinos a cavalo percorrem em cortejo as ruas da cidade para saudar e serem prestigiados pela população. Os cavalos vão arranjados a rigor com seus arreios à portuguesa, típicos da tauromaquia, compostos pela sela, com cilha e contra cilha, loros com fivelas junto aos estribos, peitoral e rabicheira com fivelas, e um xairel a rematar o conjunto. As fivelas costumam ser ovais e douradas o que leva os campinos a dizerem em seu jargão: arear os amarelos. O desfile dos campinos também se enraíza na celebração da ligação entre campo e cidade e emula as outrora deslocações dos campinos a Vila Franca de Xira. FESTA DE RUA A vivência da Festa do Colete Encarnado é também tributária da festa de rua que se desenvolve em paralelo à programação oficial. A festa de rua é animada pelas múltiplas tertúlias do Concelho de Vila Franca de Xira. As tertúlias costumam abrir as suas portas e acolher o público para um momento de convívio. Dentro das tertúlias, o público tem acesso à gastronomia local, bebidas e também a exposições constituídas pelos espólios das respetivas tertúlias (documentação gráfica, fatos de toureio, peças de caráter religioso, fotografias, recortes de jornais, cabeças de touros lidados, estribos, arreios, chocalhos, etc.). As tertúlias costumam também vender petiscos em barracas ao pé de suas portas como também organizar concertos e outras manifestações performáticas. Um dos momentos-chave da programação da maioria das tertúlias é a noite da sardinha assada. O público pode desfrutar sardinhas assadas distribuídas gratuitamente pela Câmara e assadas pelas tertúlias. As sardinhas assadas, assim como o caldo verde, constituem uma das iguarias ícones da Festa do Colete Encarnado. De modo geral, as tertúlias organizam-se de forma autónoma uma das outras e contam com a comunicação informal para atrair o público. Contudo, elas podem esporadicamente juntar-se para organizar em conjunto eventos de maior dimensão como concertos e outros eventos culturais. ORGANIZAÇÃO A Festa do Colete Encarnado é uma ilustração de sucesso de uma parceria entre poder público e comunidades para a valorização da cultura viva local. Ela resulta do pleno engajamento das comunidades portadoras e da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira na sua organização. A Câmara Municipal assume o papel de coordenador e responsabiliza-se pelos aspetos logísticos, comerciais, financeiros e jurídicos vinculados à programação oficial. A Câmara Municipal também se incumbe da mobilização e coordenação das comunidades portadoras que se responsabilizam pelos eventos campinos (para a comunidade dos campinos) e pela festa de rua paralela à programação oficial (para a comunidade tertuliana de Vila Franca de Xira). A comunidade dos campinos encarrega-se especialmente pelas esperas e largadas de touros, assim como pelas corridas de campinos. As modalidades que esses eventos assumem são coletivamente elaboradas tendo em consideração as experiências anteriores e têm por objetivo cativar o público. Para garantir um alto nível de performance e competitividade, campinos preparam-se mentalmente, mas também física e tecnicamente o ano todo para esses eventos. A rivalidade saudável existente entre campinos a nível individual e coletivo (entre campinos do Ribatejo e do Alentejo) favorece o espírito de competição. A par desses eventos campinos performativos, a comunidade dos campinos é também responsável pelos eventos celebrativos e pela nomeação do campino homenageado. A relação entre a comunidade dos campinos e a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira estabelece-se através dos representantes dos campinos. Elegem-se dois campinos para fazer a ligação com as autoridades municipais a fim de facilitar e dar suporte à realização dos eventos campinos da Festa do Colete Encarnado. A Câmara Municipal, entre outras participações, facilita a logística relacionada com a deslocação dos animais e a ocupação da via pública, como oferece suporte financeiro para a participação na Festa. A comunidade tertuliana de Vila Franca de Xira encarrega-se da programação paralela à oficial como foi já detalhado. A relação com a Câmara Municipal estabelece-se por vias informais, mas também formais através das duas associações representativas das tertúlias de Vila Franca de Xira: o tradicional Clube Taurino e a mais recente Associação de Tertúlias Tauromáquicas do Concelho de Vila Franca de Xira. A Câmara Municipal, entre outros, facilita a ocupação da via pública e provê apoio logístico e, às vezes, financeiro para a realização de eventos de maior dimensão. COMUNIDADES PORTADORAS Os eventos campinos, sejam eles performativos ou celebrativos, assim como a festa de rua, representam a essência comunitária da Festa do Colete Encarnado. A ausência dessas componentes implicaria uma descaracterização e perda de identidade. Portanto, a continuidade da Festa do Colete Encarnado é tributária do pleno envolvimento e apropriação por parte da comunidade, e principalmente da comunidade dos campinos e da comunidade tertuliana vila-franquense. CAMPINOS A comunidade dos campinos é composta por diversas gerações de trabalhadores rurais ribatejanos e alentejanos responsáveis pela criação e maneio de touros bravos e cavalos. O campino é um camponês guardador de touros a cavalo e um tipo popular ribatejano do imaginário cultural português. Ele é identificado através de seu traje – o barrete verde com orla vermelha, a camisa branca, a jaqueta azul, a cinta vermelha, o calção azul, o colete encarnado, as meias de renda branca, sapato de prateleira preto e o pampilho – e identifica-se na paixão pelos touros, cavalos e natureza. Se campino é um ofício reconhecido, ser campino permanece intrinsecamente vinculado a tradições de família. O acesso à profissão é limitado pela perícia requerida no maneio do touro bravo. O animal é perigoso e o risco de morte está sempre presente. Para lidar de forma segura com o touro bravo é necessário dominar as subtilezas de seu comportamento, mas também o comportamento dos cavalos. Essa aprendizagem exige familiaridade com esses animais, obtida geralmente através de uma exposição contínua desde miúdo a eles. Portanto, campinos costumam descender de linhagens de campinos que remontam a gerações e é incomum encontrar um campino que não seja filho e neto de campino. Esse constrangimento dificulta a renovação da comunidade limitada às decisões individuais de orientação profissional de seus jovens. A par do constrangimento de reposição geracional, a continuidade da comunidade vê-se também ameaçada pela modernização da agricultura. A mecanização dos processos agrícolas, a reorganização das herdades e a difusão das tecnologias de informação e comunicação resultaram numa abrupta diminuição da procura de campinos. Quando antigamente era comum encontrar nas casas agrícolas uma dezena de campinos para cuidar das diferentes criações (cavalos, touro bravo, gado manso…), hoje apenas dois ou três campinos são suficientes para o mesmo trabalho. A diminuição da procura de campinos e a dificuldade de reposição geracional levaram a um forte declínio da comunidade ao longo dos anos. A comunidade conta hoje com uma centena de campinos, de todas gerações misturadas, distribuídos no Ribatejo e no Alentejo. O seu núcleo mais ativo reagrupa aproximadamente 80 campinos todos envolvidos na Festa do Colete Encarnado. Esse envolvimento manifesta-se através dos eventos campinos performativos e celebrativos cujo êxito depende da maestria das práticas campinas e da continuidade da memória comunitária. As práticas campinas e a memória comunitária são primeiramente transmitidas e aperfeiçoadas no seio das famílias de campinos no contexto do trabalho agrícola nas herdades. É um longo processo de aprendizagem de pai para filho que resulta na construção da identidade de campino. A transmissão intergeracional do ofício de campino e das suas práticas e memórias associadas é, portanto, a condição para a continuidade dos eventos campinos performativos e celebrativos e, por conseguinte, a salvaguarda da identidade da Festa do Colete Encarnado. TERTÚLIAS DE VILA FRANCA DE XIRA O concelho de Vila Franca de Xira conta aproximadamente com umas cinquenta tertúlias tauromáquicas, repertoriadas a seguir: A Charrua; Casa Velha do Amaral; O Buraco; Os Companheiros do Balde; A Fornalha; Cirófila; O Campino; Os Farras Grupo Aficionado; A Padroeira dos Campinos; Clube Taurino Vilafranquense; O Chocalho; Os Foras e Os Bravos; A Ramboia; Festa Brava; O Estoque; Os Parras; A Trincheira; Fortunato Simões; O Ganadero; Peña Taurina 27; Abre-Max; Irmandade; O Garraio; Sangue Lusitano; Alma do Colete; Lezíria; O Mata Cavalos; Sevilhanas.com; Amigos do Dedal e do Tinto; Manuel Custódio; O Natural Sol & Sombra; Ao Redor do Copo; Museu do Colete Encarnado; O Parrita – A Manga; Tentadero; As Miúdas da Barroca; Naturales, O Recanto Taurino; Tertúlia do Rio; Bombeiro Aficionado e O Tentadero; Nossa Senhora de Alcamé; O Touril; Voltareta; CalliToro; Nova Geração; Os Almoçaristas; Zás e Vira; Capote; O Aficionado; Os Amigos do Muro; Casa dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira; O Autocarro; Os Amigos do Tejo. As tertúlias de Vila Franca de Xira contemporâneas remontam à década de 1960 e nascem da procura por espaços dedicados à vivência da afición. Concretamente, elas são casas geridas por grupos de amigos no intuito de terem um espaço de convívio para se reunir em torno da tauromaquia, seja através de realização de refeições, transmissões de corridas ou coleção de peças e acessórios tauromáquicos. Além dessas atividades sociais, as tertúlias também desenvolvem pontualmente atividades culturais. As tertúlias de Vila Franca de Xira reúnem uma população heterogénea tanto do ponto de vista geracional como social. Os seus membros são forcados, profissionais tauromáquicos e simples aficionados de Vila Franca de Xira e costumam dedicar parte significativa da vida social e financeira à paixão pela tauromaquia. O engajamento dos tertulianos resultou, por exemplo, na mobilização para transladar o corpo do maestro José Falcão e construir-lhe um mausoléu em Vila Franca de Xira na década de 1970 ou na construção do monumento ao campino na década de 1980. A afición dos tertulianos reside no gosto pelos touros cultivado desde criança no seio da família. É comum as famílias vila-franquenses terem membros envolvidos na prática tauromáquica e a cultura do touro é muito presente na sociedade de Vila Franca de Xira conhecida como a Sevilha portuguesa pela sua tradição tauromáquica. A afición é assim transmitida de pais a filhos através da visualização de corridas, de convívios sociais e de presença nas tertúlias, num contexto social e escolar marcado pela cultura do touro bravo. O dinamismo e vivacidade das tertúlias de Vila Franca de Xira alimentam-se dessa afición transmitida de geração em geração. Novas tertúlias continuam a emergir sob o impulso de novas gerações e a diversificação da paisagem das tertúlias é o reflexo desse engajamento intergeracional continuado. As tertúlias são geralmente reservadas aos seus membros e convidados, mas a Festa do Colete Encarnado representa um momento especial, a oportunidade para uma demonstração estendida da afición num desejo de partilha com o público. Ao abrir as suas portas, estender-se para as ruas e partilhar a afición com o público durante a Festa do Colete Encarnado, as tertúlias outorgam um carácter popular e comunitário à Festa que, junto com os eventos campinos, representa a sua maior identidade. Portanto, a transmissão intergeracional da afición no seio das famílias e da comunidade é o principal mecanismo que permite assegurar o engajamento das tertúlias de Vila Franca de Xira na Festa do Colete Encarnado e garantir a continuidade e salvaguarda da identidade comunitária dessa festividade. A identidade da Festa do Colete Encarnado reside nos eventos campinos e na festa de rua das tertúlias. O êxito dos eventos campinos depende da transmissão integeracional do ofício de campino (identidade, práticas e memória), enquanto o da festa de rua depende da transmissão intergeracional da afición. Assim, a continuidade da Festa do Colete Encarnado é tributária da continuidade dessas duas comunidades. Contudo, se a comunidade das tertúlias tauromáquicas de Vila Franca de Xira tem a sua continuidade garantida pela sua afición, a continuidade da comunidade dos campinos está intrincada na continuidade da própria Festa do Colete Encarnado. FESTA DO COLETE ENCARNADO E CAMPINOS A função da Festa do Colete Encarnado é homenagear o campino. Ao cumprir essa função, ela assume um papel importante para favorecer a continuidade da comunidade dos campinos, de sua cultura e de suas práticas. O desenho original da Festa do Colete Encarnado inspirou-se em elementos culturais do cotidiano dos campinos, relacionados com as práticas agrícolas tradicionais e as deslocações dos campinos à cidade, para os celebrar. Ao longo das décadas, a Festa foi sendo incorporada pelos campinos como parte de sua cultura e tornou-se um símbolo identitário. Garantir a perenidade e o sucesso da Festa do Colete Encarnado corresponde para eles a salvaguardar algo que faz parte da sua identidade cultural, o que explica o envolvimento sem falha da comunidade na organização e participação na Festa. Para além dos aspetos identitários, a Festa do Colete Encarnado representa também um vetor de valorização e continuidade da comunidade dos campinos. A Festa do Colete Encarnado proporciona: - um locus de transmissão intergeracional de práticas e conhecimentos do ofício de campino, - um locus de socialização e rutura do isolamento social inerente ao quotidiano da profissão, - uma motivação para o aperfeiçoamento individual das técnicas e práticas campinas, - uma valorização social da atividade através da homenagem pública ao campino e do reconhecimento popular, - o desejo aos mais jovens de ingressar na profissão. TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL DE PRÁTICAS E CONHECIMENTOS DO OFÍCIO DE CAMPINO O mecanismo de aprendizagem do ofício de campino opera-se primeiramente no seio das famílias no contexto das herdades. A admiração dos jovens campinos pelos pais é incomensurável e estes são considerados como as principais referências profissionais e morais. Contudo, o respeito pelos mais velhos, de modo geral, é um traço distintivo da identidade dos campinos. Os mais velhos são considerados como portadores de uma sabedoria moral e profissional e muito há que aprender a ouvi-los e observá-los. O convívio com os mais velhos, outros que os pais, ocorre principalmente durante as festas taurinas e, em particular, na Festa do Colete Encarnado. Esta proporciona um momento privilegiado de escuta e observação e contribui, portanto, à manutenção e continuidade do ofício. SOCIALIZAÇÃO E RUTURA DO ISOLAMENTO SOCIAL A Festa do Colete Encarnado proporciona um momento único de convívio. A rotina laboral dos campinos é pautada pelas exigências da criação animal e manutenção das herdades. O animal tem de ser cuidado e alimentado todos os dias e, além disso, as explorações sempre necessitam de tarefas de manutenção, que incluem reparações, modificações e outras intervenções. Assim, o trabalho do campino oferece pouco tempo livre para o lazer e a socialização. A Festa do Colete Encarnado cumpre essa função ao oferecer um momento onde os campinos podem se reunir, trocar experiências e dialogar sobre o quotidiano. A sua ausência teria por consequência o isolamento social dos campinos. APERFEIÇOAMENTO INDIVIDUAL A Festa do Colete Encarnado proporciona um momento de demonstração das habilidades individuais e coletivas em termos de maneio do touro e do cavalo num contexto de rivalidade sadia entre campinos, herdades e regiões (Ribatejo e Alentejo). Os campinos treinam e aperfeiçoam os seus conhecimentos e práticas durante o ano todo para darem o melhor no momento da Festa e impressionar o público e os colegas. Assim a Festa do Colete Encarnado favorece a manutenção e aperfeiçoamento dos conhecimentos e práticas de maneio de touros e cavalos. VALORIZAÇÃO SOCIAL A Festa do Colete Encarnado proporciona um momento de reconhecimento social. Ela foi criada para celebrar o campino, personagem da cultura e folclore da região do Ribatejo. A Festa, desde a sua criação, oferece um momento onde os campinos são celebrados e homenageados pelas autoridades e pela população. A homenagem prestada proporciona orgulho aos campinos que se sentem encorajados a continuar o trabalho. Além disso, a Festa mobiliza muito público e confere muita legitimidade à comunidade dos campinos o que lhes proporciona mais voz em defesa de sua cultura, especialmente num contexto do crescimento de discursos controversos em torno da tauromaquia. REPOSIÇÃO GERACIONAL A valorização social dos campinos promovida pela Festa do Colete Encarnado favorece a reposição geracional. Filhos de campinos, especialmente, mas também crianças e jovens em geral, apesar da dificuldade de tornar-se campino quando se não é filho de campino, ficam marcados pela homenagem popular aos campinos na Festa do Colete Encarnado e são incentivados a seguir essa orientação vocacional. A mobilização das classes mais novas é primordial para garantir a continuidade de um ofício muito exigente fisicamente, perigoso e monetariamente pouco rentável.
  • Manifestações associadas:
    FANDANGO: o fandango é um estilo musical e uma dança tradicional presente em toda península ibérica e no Brasil. Suas múltiplas variantes regionais compartilham todas uma base musical comum: compasso ternário, tempo vivo e acentuação ritmada. O fandango originou-se em Espanha e se difundiu em Portugal no século XVIII através de companhias espanholas de teatro ambulante. Ele foi primeiramente apropriado por círculos aristocráticos como uma dança de salão para posteriormente se propagar nas tabernas do país, do Minho ao Ribatejo. O fandango ribatejano, na sua expressão conhecida como “fandango da lezíria”, tornou-se uma componente central da cultura dos campinos ribatejanos. O fandango da lezíria é dançado unicamente com os pés por dois campinos frente a frente ao som de acordéons, pífaros, gaitas-de-beiços, harmónios e clarinetes. A coreografia é idiossincrática: cabeça erguida, corpo firme, braços imobilizados e polegares nas áxilas. O fandango da lezíria representa uma forma simbólica de desafio e confronto com outros campinos. Ele é “uma briga. Um duelo frenético em que dois competidores se medem” segundo o poeta Augusto Barreiros. Apesar de continuar associado à imagem do campino, o fandango da lezíria contemporâneo deixou de ser apanágio de campinos em festas e tabernas de aldeias para se tornar também um espetáculo folclórico produzido por ranchos e grupos folclóricos em diferentes festividades cíclicas ribatejanas e outros eventos culturais como a Festa do Colete Encarnado. O fandango da lezíria é uma de suas expressões artísticas mais característica e demonstrações de fandango sempre estiveram presentes em todas as edições da Festa do Colete Encarnado. SEVILHANAS: sevilhanas é uma forma músico-literária cantável que se dança típica da Andaluzia. Elas derivam do encontro da música popular castelhana com a música árabe na Andaluzia e são tocadas e dançadas por todas as classes sociais. As sevilhanas representam uma simbiose entre músicas e poéticas cultas e populares. A música das sevilhanas é tradicionalmente composta por quatro sequências musicais distintas – as coplas – cada uma subdividida em quatro partes. Sua coreografia é pré-ensaiada e executada em pares e as diferentes coreografias apresentadas sempre derivam de uma estrutura coreográfica única. Por fim, sua poética tende a expressar temas relativos à vida no campo e aos sentimentos e transmitia-se originalmente por tradição oral. A partir da segunda metade do século XX, porém, as poéticas sevilhanas passaram a ser registadas e identificadas a compositores específicos. As sevilhanas costumam ser associadas à tauromaquia andaluza e exibições de sevilhanas são frequentes na Festa do Colete Encarnado, desde os anos 1970, refletindo a proximidade da cultura taurina vila-franquense com a da Andaluzia fortalecida pela vinda do Alcaide de Sevilha à Festa do Colete Encarnado em 1968. Nessa ocasião, Vila Franca de Xira foi presenteada com uma miniatura de prata da Torre Giralda de Sevilha pelo Alcaide simbolizando a amizade entre as duas cidades. A proximidade com a cultura taurina sevilhana persiste na contemporaneidade da Festa do Colete Encarnado através não somente de demonstrações de sevilhanas, mas também pela realização de missas rocieiras desde 2002. A missa rocieira é o único momento de cariz religioso de toda a programação da Festa com com coros de sevilhanas e parte do público com trajes tracionais andaluzes, tudo sob os auspícios da Virgem do Rocio de Andaluzia. A missa rocieira é realizada em colaboração com a Paróquia de Vila Franca de Xira. TOUREIO: toureio é sinónimo de touradas e de corridas de touros. O toureio é um evento artístico caracterizado pela lide de touros bravos a cavalo ou a pé e representa o desequilíbrio de força entre o animal e o homem. O toureio simboliza um ritual cerimonial de sacrifício público de um animal totémico puro, o touro, para a apropriação simbólica de suas qualidades e virtudes: força, poder, ferocidade, coragem, bravura e insubmissão. O toureio é endémico à península ibérica e ao sul da França e, através dos processos de colonização, difundiu-se também em países do continente americano como Colômbia, Venezuela, México, Peru, Bolívia ou Equador. Existem três tipos de toureios: (i) a corrida camarguesa na França, na qual os participantes devem enfrentar o touro para lhes roubar atributos premiados pendurados na frente e nos cornos dos touros, (ii) a corrida andaluza, na qual matadores de touros lidam os touros a pé, com capote e muleta, auxiliados por bandarilheiros, picadores e moços de espadas, (iii) e a tourada portuguesa, na qual o touro é lidado por um cavaleiro auxiliado por bandarilheiros. Na corrida andaluza o touro é sacrificado no final com uma estocada pelo matador, enquanto na tourada portuguesa, o touro é pegado de cara pelos forcados sendo a morte do touro na Arena proibida em Portugal. A Festa do Colete Encarnado acolhe tradicionalmente uma corrida mista, ou seja, uma corrida que mistura as duas modalidades: lide a pé e lide a cavalo, alternadamente, e inclui também novilhadas (lide de novilhos por jovens toureiros ainda em fase de aprendizagem). Contudo, a lide a pé não termina com a morte do touro por esta ser proibida em Portugal. O final da corrida é marcado pelo espeto de uma última bandarilha simbolizando o gesto final com o estoque. A lide a pé é um dos traços distintivos do toureio vila-franquense no cenário tauromáquico português e um marcador cultural da proximidade da cultura taurina de Vila Franca de Xira com a de Sevilha.
  • Contexto transmissão:
    Estado de transmissão activo
    Descrição: A Festa do Colete Encarnado é a maior festividade popular do Concelho de Vila Franca de Xira e uma das principais do Ribatejo. Ela caracteriza-se por uma grande participação popular contínua ao longo dos seus 89 anos de história. A última edição (2019) teve uma afluência de aproximadamente 250 mil pessoas e o cancelamento da Festa em 2020, devido à situação sanitária nacional e internacional, provocou muita comoção localmente e no mundo da tauromaquia nacional e internacional. Essa comoção refletiu-se em inúmeras partilhas de fotografias e vídeos de antigas edições da Festa nas médias sociais pelos aficionados, por campinos e por profissionais e amadores tauromáquicos. Aliás, em 89 anos de história, a Festa não ocorreu apenas em quatro anos (1933, 1936, 1942 e 2020), todos devidos a contextos de força maior. A par da presença do público, o contexto da transmissão das componentes características da Festa (os eventos campinos e a festa de rua) não só permanece ativo como se vem fortalecendo nos últimos anos. As tertúlias passaram de umas quinze na década de 1980 a mais de cinquenta nos dias de hoje, enquanto a comunidade dos campinos ativamente envolvida na Festa somava em 2014 apenas algumas dezenas de indivíduos para hoje ultrapassar os 80. Como ilustração do estado vivo e dinâmico da Festa do Colete Encarnado, esta manifestação consagrou-se campeã do concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular de Portugal em 2020 graças à mobilização comunitária em defesa de um dos símbolos da sua cultura.
    Data: 2020-12-04
    Modo de transmissão oral
    Idioma(s): Português
    Agente(s) de transmissão: Campinos e aficionados
  • Origem / Historial:
    A Festa do Colete Encarnado é a mais antiga festividade taurina do Ribatejo. A sua primeira edição ocorreu em 1932 sob o impulso de José Van-Zeller Pereira Palha, administrador político, financeiro e cultural do Concelho de Vila Franca de Xira. A ideia teria surgido de uma conversa entre Palha e o Maioral Custódio para angariar fundos para os Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira. Estes enfrentavam grandes dificuldades financeiras e necessitavam de finalizar as obras do quartel. A Festa do Colete Encarnado nasce, portanto, com um propósito social numa perspetiva circunstancial específica. A ideia de Palha era organizar uma festa baseada em diferentes componentes da tradição local e, especialmente, em elementos culturais do cotidiano dos campinos. Esses elementos relacionavam-se diretamente com as práticas agrícolas tradicionais e buscavam enfatizar a ligação entre o campo e a cidade. A Festa do Colete Encarnado nasce para celebrar essas práticas e a reunião das duas margens do Tejo – a norte urbana, e a lezíria rural ao sul. Historicamente, a reunião das duas margens ocorria na transição para o inverno – na grande feira de outubro – e na transição para o verão – na grande feira de gado. Nessas duas ocasiões registavam-se grandes deslocações de campinos e animais para a cidade. A feira do gado, por exemplo, dava lugar a uma enorme transumância de gado da lezíria à cidade. Originalmente a pé pelo rio e posteriormente pela ponte, a travessia do gado, sob o maneio dos campinos, atraía multidões urbanas e periurbanas. O afeto vinculado a essa prática cravada na sazonalidade do calendário rural deu origem a uma das componentes centrais da Festa do Colete Encarnado: a espera e a largada de touros. A grande feira de outubro, por sua vez, era o período onde os campinos se abasteciam na cidade e deu origem, por exemplo, no desfile de campinos que procura emular esses deslocamentos à cidade. À celebração das práticas rurais associadas à vida dos campinos, a Festa do Colete Encarnado soube agregar outros componentes do imaginário cultural ribatejano como os ranchos folclóricos, o fandango e a gastronomia local. Assim, a Festa do Colete Encarnado tornava-se um compósito da cultura ribatejana. A Festa do Colete Encarnado teve muito respaldo nas comunidades locais. A cultura ribatejana via-se ameaçada pela urbanização e a modernidade e havia uma grande ânsia comunitária face à desagregação de sua cultura. A Festa do Colete Encarnado homenageava os símbolos locais – a ruralidade, o touro e o campino – e respondeu a essa ânsia ao proporcionar às comunidades um símbolo de identidade cultural que lhes faltava. Ela surgiu como um catalisador dos entusiasmos e paixões comunitárias. Assim, a Festa que não havia sido concebida para durar, foi apropriada pelas comunidades e instalou-se no calendário anual festivo de Vila Franca de Xira. Ela tornou-se uma manifestação de cariz popular, transportada, vivenciada e reconstruída por diferentes gerações de ribatejanos. As primeiras edições da Festa do Colete Encarnado foram organizadas sob a égide de Palha e tornou-se uma iniciativa municipal plena a partir de 1934. Desde então, a organização da Festa do Colete Encarnado marcou o engajamento ativo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira em favor da promoção da cultura e tradições regionais. Ao longo dos anos, a Festa do Colete Encarnado transformou-se num catalisador expressivo da cultura ribatejana, permitindo extravasar tudo o que compunha essa cultura local e mobilizar as diferentes comunidades e, em especial, a comunidade dos campinos e a das tertúlias vila-franquenses. MOBILIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA COMUNIDADE DOS CAMPINOS A Festa do Colete Encarnado teve um papel fundamental na consolidação e continuidade da cultura dos campinos que se via ameaçada. O mundo agrícola português conhecia grandes mutações impulsionadas pela difusão da mecanização e da abordagem empresarial da agricultura. A criação de gado bravo não era uma atividade rentável e a procura por campinos entrou em declínio, especialmente no Ribatejo. Muitas herdades optaram por se deslocar para o Alentejo, abandonando um Ribatejo confrontado com uma alta dos preços fundiários. A Festa do Colete Encarnado surge nesse contexto de profundas transformações e soube cativar uma comunidade de campinos em busca de sentido ao oferecer-lhes uma plataforma de expressão e defesa de sua cultura. Essa plataforma de expressão que erigia o campino em símbolo cultural ribatejano, representando uma forma de bravura dentro da simplicidade e humildade, tornou-se progressivamente uma plataforma de valorização da cultura dos campinos num contexto cultural ribatejano alargado também em busca da salvaguarda de sua identidade cultural. A Festa do Colete Encarnado era uma forma de homenagear o campino, figura expressiva ribatejana, e a cultura taurina em geral, símbolo identitário do Ribatejo. Em paralelo, a Festa do Colete Encarnado oferecia-se também como uma plataforma de dinamização da economia do touro bravo para proprietários agrícolas em busca de promoção de suas ganadarias. A Festa do Colete Encarnado era um palco de demonstração da qualidade dos touros e dos cavalos de cada ganadaria e uma oportunidade de diferenciar-se num mercado de baixa rentabilidade. A participação dos campinos na Festa do Colete Encarnado era, portanto, encorajada pelas suas respetivas casas agrícolas e a qualidade das demonstrações de proezas e destrezas recompensadas. Ao longo dos anos, a diversificação dos instrumentos de homenagem à figura do campino favoreceu a consolidação de símbolos identitários e outorgou também à Festa do Colete Encarnado um papel na coesão social da comunidade. O colete encarnado, em primeiro lugar, nome da Festa, consagrou um traje e conferiu-lhe um simbolismo relativo ao respeito pelas tradições e pelos antepassados. O traje de campino – o barrete verde com orla vermelha, a camisa branca, a jaqueta azul, a cinta vermelha, o calção azul, o colete encarnado, as meias de renda branca, sapato de prateleira preto – só se uniformizou e se difundiu no vestuário dos campinos graças à Festa do Colete Encarnado sob o impulso da casa agrícola da família Palha que já uniformizara os seus campinos com coletes vermelhos em dias de festa. Anteriormente, o uso de traje de festas não era comum e cada casa agrícola possuía o seu. Assim, a Festa do Colete Encarnado favoreceu a unificação do traje e transformou-o num símbolo cultural. “A Festa do Colete Encarnado é a festa do Campino. E porque é dia de festa, é no seu trajo de gala de coloridos vibrantes que ele surgirá, coloridos que são símbolos de toda a sua alma, que o torna um dos homens mais valentes deste Portugal. E todos, que ali se deslocarem nesses dias, não deixarão também de vibrar, quando o virem envolvido no encarnado de seu colete, no azul de seu calção, no branco rendado das suas meias, no prateado brilhante das esporas sobre os sapatos pretos e no verde bem verde do seu barrete. É assim que ele virá, garbosamente montado no seu cavalo amigo, para receber a homenagem de todo um povo ribeirinho que o admira” (Paulo Maximino, A figura do campino, 2003). Outro símbolo da cultura dos campinos revitalizado pela Festa do Colete Encarnado foi o culto à Nossa Senhora de Alcamé, a padroeira dos campinos, lavradores, maiorais e varinos. A romaria à Ermida de Nossa Senhora de Alcamé, igreja erguida por lavradores com o apoio da Companhia das Lezírias no século XVIII, já não se realizara há décadas quando nos anos 1940 a Festa do Colete Encarnado passou a integrá-las por iniciativa de Palha. Assim, a Festa do Colete Encarnado incluiu diversas vezes um festejo na lezíria com uma romaria à Ermida de Nossa Senhora de Alcamé até o começo da década de 1970. A homenagem ao campino através da entrega do Pampilho de Honra e da execução do Hino de Vila Franca de Xira, por sua vez, apareceu na década de 1970. O Pampilho de Honra foi inicialmente criado em 1941. O Pampilho carregava o nome de Joaquim Pedro Monteiro, aficionado e empresário vila-franquense já falecido, e duas artísticas estruturas de prata. A vara escolhida para esse efeito foi a do campino Maioral Custódio. O Pampilho de Honra abria o cortejo da espera de touros, dando início ao festejo. Ele era carregado por um campino e entregue ao final do percurso ao proprietário da mais engalanada varanda. Foi apenas na década de 1970 que a pártica foi substituída para distinguir um campino pela sua trajetória pela própria comunidade. O Pampilho de Honra instaura-se então como símbolo da salvaguarda dos cânones do ofício de campino e transforma-se em alvo de aspiração para cada membro da comunidade. Diversas outras premiações secundárias surgem também progressivamente (e.g., vencedor da corrida de campinos, prêmio de condução de cabrestos) contribuindo para a salvaguarda dos cânones do ofício. Assim, a Festa do Colete Encarnado foi-se simultaneamente tornando uma plataforma de expressão, de valorização e de coesão da comunidade dos campinos e da sua cultura, assim como uma plataforma de dinamização da economia do touro bravo. Ela foi progressivamente se enraizando na comunidade dos campinos, tornando-se um símbolo de sua cultura e um vetor de identidade e coesão social. MOBILIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA COMUNIDADE DAS TERTÚLIAS DE VILA FRANCA DE XIRA As tertúlias de Vila Franca de Xira inspiram-se na tradição espanhola das taurinas. A primeira tertúlia de Vila Franca de Xira surgiu no século XIX. Ela era uma agremiação com decoração tauromáquica, um espaço de convívio onde as pessoas se reuniam para conversar sobre tauromaquia e assuntos variados. Contudo, a cultura moderna das tertúlias surgiu em Vila Franca de Xira apenas no começo da década de 1960. Essas tertúlias ofereciam um espaço de convívio mais íntimo, restrito ao círculo da família e dos amigos, num espaço privado onde estes podiam se reunir e conservar os seus patrimónios e coleções tauromáquicos (fotos, livros, documentos promocionais, etc.). Essas tertúlias tauromáquicas não eram formais, não eram associações, mas apenas um espaço de convívio íntimo e privado. As primeiras tertúlias mais formais, mais institucionalizadas começaram a surgir no final da década de 1960 e começo da década de 1970. Elas deixavam de ser um simples espaço íntimo de convívio para progressivamente se tornaram um espaço social estruturado oferecendo um calendário de atividades sociais e culturais. O processo de transformação das demais tertúlias ocorreu ao longo da década de 1970 estimulado pela Festa do Colete Encarnado. As tertúlias passaram, uma a uma, a integrar a Festa dentro de seus respetivos calendários de atividades para participar como entidade. A cada nova edição e a cada novo sucesso, consolidavam-se novas tertúlias que se motivavam para se juntar à Festa. Assim nasce a festa de rua promovida pelas tertúlias de Vila Franca de Xira. Em paralelo, o apelo da Festa do Colete Encarnado estende-se para além das fronteiras locais. A Festa começa a atrair público de outras regiões e inicia-se um processo de turistificação e massificação. Esses dois processos – a consolidação das tertúlias em torno da animação da festa de rua e a turistificação – retroalimentaram-se durante toda a década de 1970. O final da década de 1970 marcou um terceiro momento no processo de consolidação das tertúlias de Vila Franca de Xira: a criação de um movimento. Até então, as tertúlias tinham os seus próprios calendários e atividades. A colaboração era esporádica e não havia agenda compartilhada. A morte trágica e súbita do toureiro José Falcão em Espanha em 1974, gerou um movimento partilhado na comunidade para repatriar seu corpo. José Falcão era natural de Vila Franca de Xira e seu corpo devia ser ali sepultado. As tertúlias reuniram-se todas para iniciar uma conversa sobre a transladação do corpo de José Falcão que tinha sido sepultado em Espanha. A transladação do corpo custava 89 contos com pesados trâmites burocráticos e diplomáticos. Foi então criado uma comissão para esse fim. A comissão foi exitosa e o corpo de José Falcão foi transladado de Espanha para Vila Franca de Xira em 1976. O sucesso da operação motivou as tertúlias a continuarem a desenvolver atividades em conjunto. A comissão criada para transladar o corpo de José Falcão perdurou e foi decidido erguer um mausoléu ao José Falcão. A comissão supervisionou todo o processo e os custos foram assumidos em nome próprio por cada tertuliano envolvido. O sucesso da cooperação dos tertulianos em torno da transladação e construção do mausoléu de José Falcão impulsionou de vez a consolidação do movimento das tertúlias de Vila Franca de Xira. A comissão procurou desenvolver outros projetos como a construção do monumento ao campino, a fundação do Clube Taurino, para representar o seu movimento, e a da Escola de Toureio. O monumento ao campino foi inaugurado em 1982. Esculpido pelo artista Domingos Soares Branco, o monumento honra a trilogia da identidade do campino: homem, touro e cavalo. O monumento foi obtido através da medição e representação do campino Zé Canário e sua égua. O touro, contudo, não se deixou medir e foi esculpido com base na medição de elementos comparativos. O Clube Taurino e a Escola de Toureio José Falcão foram ambos fundados no ano seguinte. Um imóvel foi adquirido para servir de sede ao Clube, enquanto a Escola de Toureio instalou-se em terrenos municipais. O financiamento dessas iniciativas e, principalmente, da construção do monumento ao campino e da fundação do clube taurino exigiu grande organização e comprometimento das diferentes tertúlias. Os tertulianos financiaram através de dívidas em nome próprio e completaram as quantias exigidas através da organização de diversas corridas beneficentes. Essas corridas conheceram sucesso de público, a população vila-franquense se solidarizou com ambos os projetos. A afirmação das tertúlias de Vila Franca de Xira como um movimento continuou a consolidar-se ao longo das décadas seguintes. O número de tertúlias não cessou de crescer e uma nova entidade de representação foi criada em 2017: a Associação de Tertúlias Tauromáquicas do Concelho de Vila Franca de Xira – ATTCVFX. As tertúlias tauromáquicas de Vila Franca de Xira nasceram da paixão pelo touro bravo e afición. A Festa do Colete Encarnado foi o seu catalisador permitindo que elas saíssem do quadro estritamente íntimo e privado para se estruturarem e se multiplicarem até se tornarem um movimento com agenda própria. PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO E CONTINUIDADE DA FESTA DO COLETE ENCARNADO O processo de redemocratização de Portugal ameaçou a continuidade da Festa do Colete Encarnado. Esta era uma manifestação identificada com o regime deposto. Certas classes, como os amadores e profissionais da tauromaquia, eram também discriminadas por estarem associadas aos proprietários agrícolas. O desejo era desconstruir a herança salazarista ou até mesmo extinguir a Festa. É certo que a Festa do Colete Encarnado foi instrumentalizada pelo regime do Estado Novo para sedimentar o patriotismo. Contudo, a Festa era, antes da mais nada, uma expressão da cultura ribatejana e a sua essência não residia no patriotismo artificial instigado pelo Estado Novo. A sua essência estava na sua cultura popular. A mobilização popular em Vila Franca de Xira e no Ribatejo permitiu salvaguardar a Festa do Colete Encarnado na sua essência e garantir a sua sobrevivência ao período de transição de regime. A FESTA DO COLETE ENCARNADO: UMA MEDIDA DE SALVAGUARDA A Festa do Colete Encarnado surge do desejo de homenagear e valorizar uma cultura rural ribatejana que se encontrava em declínio. Ela agregou diversas componentes dessa cultura e criou um compósito cultural do imaginário ribatejano. Nesse compósito, guindou a imagem do campino ao símbolo mais expressivo dessa cultura e ofereceu aos campinos uma plataforma de expressão, valorização e coesão de sua comunidade. A Festa do Colete Encarnado permitiu dinamizar a comunidade dos campinos, exposta às transformações do mundo agrícola, e contribuiu para a sua continuidade. O sucesso da Festa do Colete Encarnado também motivou festas similares noutras cidades do Ribatejo acentuando a contribuição desses eventos para a continuidade da cultura ribatejana. Portanto, a Festa do Colete Encarnado poderia ser equiparada a uma medida vanguardista de salvaguarda urgente da cultura viva dos campinos e da presença da ruralidade nas cidades ribatejanas. Hoje, a Festa do Colete Encarnado é uma festa humana propiciando um momento de muito convívio, hospitalidade e gratidão. O COLETE ENCARNADO ATRAVÉS DA HISTÓRIA PEQUENA: ALGUMAS CURIOSIDADES 1. O Colete Encarnado só passou a ser uma iniciativa municipal a partir de 1934. 2. O primeiro Colete Encarnado teve o apoio do Jornal Vida Ribatejana. 3. O primeiro Colete Encarnado foi realizado para angariar fundos para os Bombeiros Voluntários, que estavam com inúmeras dificuldades financeiras e não conseguiam ter verbas, para, por exemplo, acabar as obras do seu quartel. 4. Diz-se que ideia para a criação da Festa do Colete Encarnado surgiu de uma conversa entre José Van Zeller Pereira Palha e o Maioral Custódio, uma das melhores varas do Ribatejo. 5. O uso dos coletes encarnados na indumentária dos campinos só se vulgarizou depois do início das Festas do Colete Encarnado, não sendo comum antes. 6. A ideia de os campinos trajarem todos de igual de rubro colete em dias de festa é apanágio inicial da Casa Palha. 7. O primeiro Colete Encarnado ocorreu no dia 16 de julho, porque era dia de Nossa Senhora do Carmo, grande devoção vila-franquense. 8. A primeira apartação de touros pelo Colete Encarnado contou com 50 campinos. 9. Duas peças de teatro foram emblemáticas durante os 75 anos do Colete Encarnado: “Os Campinos” de Salvador Marques e “À Sesta” de Faustino dos Reis Sousa, representada em 1932. 10. Na peça “À Sesta” representada pelo primeiro Colete Encarnado, o papel central do Maioral era representado por Alves Redol. 11. No domingo do primeiro Colete Encarnado apresentaram-se na corrida um “Valente Grupo de Forcados de Vila Franca de Xira, capitaneados por Joaquim Franco, origem do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira. 12. A edição original do Colete Encarnado incluía um jantar no Celeiro da Patriarcal, intitulado “Grande Jantar à Ribatejana”, com uma ementa tipicamente lezireira. 13. O Jantar do 1º Colete Encarnado incluía bifes de bacalhau, vitela brava no espeto e arroz doce. 14. As primeiras edições do Colete Encarnado incluíam ferra de novilhos, normalmente na Praça de Touros. 15. O Colete Encarnado de 1932 contou com uma única corrida de 4 touros, onde lidou a cavalo um único cavaleiro José Bastos e Silva. 16. Em 1933, não se realizaram esperas e os espetáculos taurinos por haver arranjos nos pavimentos das ruas da Vila. 17. Nos primeiros dois anos a organização era uma organização cívica, orientada por José Van Zeller Pereira Palha. 18. O Colete Encarnado realizou-se muitas vezes no segundo domingo de julho e só se vulgarizou no primeiro domingo a partir dos anos 60. 19. Em 1937, inaugurou-se o sistema de tranqueiras, para que a espera seguida de largada pudesse fazer-se num “sistemas de pamplonas”, como constava no programa do dia 11 de Julho. 20. A 11 de julho de 1937, domingo de Colete Encarnado, a Praça de Touros de Vila Franca descerra uma lápide pela qual passa a chamar-se “Palha Blanco”, em homenagem a José Pereira Palha Blanco, ganadeiro, filantropo e principal impulsionador da sua construção da Praça. A decisão data, contudo, de 9 de julho de 1932. 21. Inicialmente só havia uma espera seguida de largada, nas primeiras edições do Colete Encarnado. 22. O Colete Encarnado não se realizou dois anos, por altura da Segunda Guerra Mundial, derivado da crise económica que se fazia sentir por toda a Europa. 23. Pelo Colete Encarnado de 1941, é inaugurada a Rua de Joaquim Pedro Monteiro, vila-franquense e figura notável da tauromaquia do século XIX. 24. Em 1941, aparece o Pampilho de Honra, com o nome de Joaquim Pedro Monteiro, notável aficionado, ganadeiro e campino amador. 25. O primitivo Pampilho de Honra não era um galardão oferecido ao Campino homenageado num determinado ano, mas destinava-se a homenagear a varanda melhor enfeitada por ocasião das Festas. 26. Nos anos 40, pelo Colete Encarnado, distribuía-se um bodo de vinte escudos a pessoas desfavorecidas social e financeiramente, que na época era um auxílio considerável. 27. Até aos anos 40 era comum existirem campinos não profissionais, que conduziam o gado por paixão à vida lezireira. Eram chamados campinos amadores. 28. Em 1943, o Colete Encarnado contou com uma missa, no campo do Cevadeiro, com altar decorado e desenhado por Homero Câncio. 29. O convidado de honra do ano de 1943 foi o Bispo de Vatarba, que aqui presidiu a uma missa campal com bênção de gado. 30. A decoração de muitas habitações, tipóias e estruturas de eventos era realizada habitualmente por Homero Câncio e pelo próprio fundador da Festa, José Palha, que se empenhavam pessoalmente em cada detalhe. 31. João Branco Núncio foi o Cavaleiro que lidou a cavalo mais vezes pelo Colete Encarnado, tendo nos primeiros vinte anos toureado quase ininterruptamente e tendo toureado pela última vez na Praça Blanco. 32. Em 1947, estiveram presentes nas Festas do Colete Encarnado o rei Humberto de Itália, D. Duarte Pio e o Conde de Barcelona, pai de Juan Carlos de Espanha. 33. Em 1947, pelas Festas do Colete Encarnado, toureou Conchita Citron, na Praça de Touros Palha Blanco. 34. Era hábito fazer-se um almoço de campinos no Mercado Municipal, organizando para cada um o típico farnel. 35. Em quase todas as edições do Colete Encarnado houve competições de campinos: jogos de destreza e cabrestos, bem como corridas de campino. 36. Em todas as edições do Colete Encarnado houve sempre demonstração de Fandango, dança de campinos, ranchos e fados. 37. Em 1948, foram convidadas de honra do Colete Encarnado Amália Rodrigues e Hermínia Silva. 38. Em 1949, foi apresentado o filme-documentário “Festa Brava”, filmado em parte no Colete Encarnado de 1948, com o patrocínio da Câmara Municipal. 39. No documentário “Festa Brava” surge pela primeira vez o Fado de Vila Franca, ex-libris cantado do Colete Encarnado, com letra e música de João Nobre, cantado pela primeira vez por Cidaliza do Carmo. 40. Em quase todas as edições do Colete Encarnado houve arraiais e bailes populares com “descantes”. 41. Em 1951, toureou, pela primeira vez num Colete Encarnado, David Ribeiro Teles. 42. Em 1952, é composto o Hino de Vila Franca, com música de Amorim Pereira e letra de Reis Sousa, para ser tocado na entrega do Pampilho de Honra. 43. Em 1953, o Colete Encarnado, a título excecional, realizou-se no penúltimo fim-de-semana de junho. 44. Em 1955, o convidado de Honra foi o filantropo Calouste Gulbenkian. 45. A primeira vez que José Júlio toureou em Vila Franca, pelo Colete Encarnado, foi em 1955. 46. Várias vezes, a Festa do Colete Encarnado incluiu festa na lezíria e romaria dedicada à Nossa senhora de Alcamé, padroeira dos campinos, tendo sido considerada a mais espantosa a do ano de 1957, ano em que a Festa comemorou as suas Bodas de Prata. 47. Em 1959, o Presidente da República Américo Tomás foi o Convidado de Honra da Festa do Colete Encarnado. 48. Era comum, em quase todas as edições do Colete Encarnado, haver concerto de banda no Coreto da Avenida/Jardim Constantino Palha. 49. A banda que atuou mais vezes em concerto pelo Colete Encarnado foi a Banda do Grémio/ Ateneu Artístico Vilafranquense. 50. O artista plástico que mais vezes realizou cartazes relacionados com o Colete Encarnado foi Júlio Goes. 51. Em 1966, as Festas do Colete Encarnado contaram com a demonstração do Cavaleiro Pedro Louceiro e os seus touros amestrados. 52. Nos anos 60, houve concurso de culinária, por altura do Colete Encarnado destinado a premiar o melhor prato realizado com produtos da lezíria. 53. Dado o interesse do Colete Encarnado, os Caminhos de Ferro chegaram a criar comboios especiais para que afluíssem a Vila Franca grande número de visitantes por ocasião da Festa. 54. Nos anos 60, o Colete Encarnado chegou a ter quatro dias em vez de três como era habitual. Em algumas edições teve somente dois dias. 55. A partir de 1963, o Colete Encarnado recebe pela primeira vez a presença das Marchas de Lisboa, fundadas também em 1932. Nesse ano estiveram presentes as Marchas da Bica, Campolide e Alfama. 56. A partir de 1963, o cortejo passou a integrar tipóias enfeitadas, com marialvas e fadistas. 57. Nos anos 50 e 60 as iluminações de rua vinham de Montijo, depois das Festas de São Pedro. 58. Em 1968, o convidado de honra pelo Colete Encarnado foi o Alcaide de Sevilha. 59. A partir de 1968 passa a realizar-se com regularidade a distribuição de sardinha assada e nasce a Garraiada da Noite. 60. A partir de 1968, as tertúlias ganharam um carácter regular, tendo as primeiras tertúlias “oficiais” aparecido nesta época. 61. A partir dos anos 70, o Pampilho de Honra, antes símbolo da abertura das Festas e condecoração da varanda melhor engalanada, passou a distinguir um campino, notabilizado na bravura da sua carreira. 62. As duas pessoas que mais vezes fizeram parte da Organização foram José Van Zeller Pereira Palha e António Vidal Baptista. 63. Em 1970, Mário Coelho apresenta-se, pela primeira vez numa corrida integrada do Colete Encarnado, como Matador. 64. Pelo Colete Encarnado, era comum, a partir dos anos 70, haver exibição de sevilhanas e flamenco. 65. A partir de meados dos anos 70, torna-se regular a visita às tertúlias na ‘Noite da Sardinha Assada’. 66. Em 1972, pela 40ª edição do Colete Encarnado, a Festa ocupou uma semana inteira de 1 a 9 de julho, em vez do tradicional fim-de-semana. 67. Em 1973, pelo Colete Encarnado, toureia José Falcão pela última vez em Vila Franca de Xira. 68. Em 1978, falece, na Quinta do Cabo, José Van Zeller Pereira Palha, fundador do Colete Encarnado, precisamente no dia em que passavam 46 anos da fundação da Festa Vilafranquense mais emblemática. 69. Em 1982, por ocasião dos 50 anos da Festa do Colete Encarnado, é inaugurado o Monumento ao Campino, da autoria de Domingos Soares Branco, iniciativa das tertúlias vila-franquenses. 70. Nos anos 80, as animações de rua contavam muitas vezes com Zés Pereira. 71. Em 1975, era vulgar ver-se nos cartazes e programas do Colete Encarnado, “Festa do Povo". 72. Na corrida principal do Colete Encarnado de 1998, foi o “adeus ao Maestro Vítor Mendes”.
  • Direitos associados :
  • TipoCircunstânciaDetentor
    Marca Nacional"Colete Encarnado" é uma marca registada perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial desde 2017 sob o nº 577339. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
    Saber-fazer do ofício de campinoConhecimentos e práticas tradicionais relativos ao maneio do touro bravo e do cavalo necessários para a realização dos eventos campinos performativos da Festa do Colete Encarnado. Campinos
  • Responsável pela documentação :
    Nome: Julio Sa Rego
    Função: Consultor especialista do património cultural imaterial
    Data: 2021-03-02
  • Fundamentação do Processo : ver fundamentação do processo
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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