Ficha de Investigador

ROCHA PEIXOTO, António A. C. Octaviano de

  • Denominação: ROCHA PEIXOTO, António A. C. Octaviano de
  • Nascimento: Póvoa do Varzim,18/05/1866
  • Óbito: Porto,02/05/1909
  • Biografia:
    • António Augusto César Octaviano da Rocha Peixoto nasceu a 18 de maio de 1866, na Póvoa do Varzim, e morreu a 2 de maio de 1909, no Porto.

      Estudou no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto, frequentando posteriormente a Academia Politécnica da mesma cidade (atual Universidade do Porto). Ao seu encargo teve o sustento da família, mãe e irmãs, numa situação difícil após o falecimento do seu pai quando tinha apenas oito anos de idade. Este facto fê-lo iniciar muito cedo a sua carreira profissional, deixando o seu percurso académico incompleto.

      Rocha Peixoto desenvolveu atividade enquanto etnógrafo, arqueólogo, bibliotecário e naturalista, sendo uma das figuras de maior relevo na vida cultural portuguesa na transição do século XIX para o século XX.

      A sua atividade intelectual e de publicista decorreu no Porto, acentuando a vocação para a ciência que desde muito novo se lhe revelou. Começou por escrever textos de intervenção política em diversas publicações periódicas, exercendo considerável atividade de escritor e jornalista.

      Em 1881, com apenas quinze anos, pertenceu ao corpo fundador de uma efémera revista de estudantes, Boletim Literário - Revista Academia Mensal, editada no Porto. Dois anos mais tarde publicou, sob o pseudónimo Augusto César, no jornal povoense A Independência. Em 1887 ainda estudante na Academia Politécnica do Porto, foi cofundador da Sociedade Carlos Ribeiro, com a qual colaboraram personalidades solenes como Basílio Teles, António Arroio, Oliveira Alvarenga, António Nobre e Augusto Nobre. Na linha editorial desta sociedade científica, foi publicada a Revista de Ciências Naturais e Sociais, em cinco volumes de 1890 a 1898, da qual Rocha Peixoto foi um dos diretores Esta publicação foi um importante repositório nos domínios das ciências naturais, arqueologia, etnografia e história, onde o autor publicou os seus primeiros estudos relacionados com a área das Ciências Naturais.

      Foi naturalista-adjunto do Gabinete de Mineralogia, Geologia e Paleontologia da Academia Politécnica do Porto. Integrou o ensino de Mineralogia, Geologia e Paleontologia, desempenhando as funções de professor de Geografia e de Ciências Físico-Naturais na Escola Industrial D. Henrique, no Porto. Foi diretor da Biblioteca Pública Municipal do Porto (1904), e responsável pela organização de diversos catálogos da Academia Politécnica do Porto e do Ateneu Comercial do Porto.

      Paralelamente as estas funções, foi diretor do Museu Municipal do Porto (cujas coleções vieram a integrar posteriormente o Museu Nacional Soares dos Reis), para o qual contribuiu de forma decisiva para a reorganização e enriquecimento das suas coleções, desenvolvendo as Sessões de Arqueologia, Etnografia e Epigrafia do Museu, com a aquisição de valiosas espécimes de grande valor para o conhecimento da história pré-romana, da antiguidade e da tradição popular portuguesa.

      Foi no domínio da Etnografia Portuguesa dos finais século XIX e início do século XX que Rocha Peixoto contribuiu de forma mais significativa. Na viragem do século, assistia-se a uma Etnografia até aí centrada na literatura e tradições populares, iniciando com Rocha Peixoto um processo de diversificação de temas mais abrangentes, destacando um lugar ao domínio da arte e arquitetura popular, as tecnologias tradicionais e o comunitarismo agrário. Este contributo para uma conceção alargada da Etnografia reencontra-se na orientação editorial da revista Portugália, da qual foi cofundador (1899) e diretor, cuja rede de correspondentes locais se estendeu por todo o país.

      O ponto de partida da produção etnográfica de Rocha Peixoto visa as tradições populares, escrevendo, em 1894, os seus primeiros ensaios sobre as Maias, as festas de São João e o Natal. Outro campo de interesse foi o estudo etnográfico dos pescadores da Póvoa do Varzim, a sua terra natal, à qual se manteve ligado tendo sido um caloroso defensor dos interesses da comunidade marítima poveira. Encorajou e orientou outros etnógrafos locais, como Fonseca Cardoso, Cândido Landolt e, em particular, António Santos Graça, que consagraram obras de referência à cultura piscatória poveira. A sua ação na Póvoa do Varzim estendeu-se ainda ao domínio da Arqueologia, que com o mesmo rigor científico que pugnou em outras matérias, a ele se devem as primeiras escavações da Cividade de Terroso, do Castro de Laúndos, da “vila” de Martim Vaz.

      Em 1897 organizou o volume A Terra Portuguesa, compilando vinte e seis artigos sobre temas diversos relacionados com festividades, (S. João, Maias, Natal) mas também a estudos pioneiros sobre os ciganos, as tatuagens, entre outros temas.

      Entre 1898 e 1908, consagrou um conjunto de artigos ao tema da arte popular, na revista Portugália, alusivos a tópicos diversos relacionados com as industrias locais, a olaria, à azulejaria, as filigranas, as rendas, as formas de iluminação popular, ex-votos, cataventos e arquitetura popular. Escreveu os primeiros ensaios sobre comunitarismo agrário, através de Survivances du regime communautaire en Portugal (1908) e Formas de vida comunalista em Portugal (1909).

      Em contraste com a matriz romântica contemplada nos restantes períodos da Antropologia Portuguesa, a obra de Rocha Peixoto é caracterizada por um retrato crítico do povo e cultura portuguesa, como são exemplo os seus ensaios O Cruel e Triste Fado (1897) ou em A Casa Portuguesa (1904).

      A sua colaboração estendeu-se a inúmeras publicações periódicas, jornais e revistas, publicando artigos sobre variados temas, desde etnografia, arqueologia, história, arte e indústrias portuguesas. Colaborou sobretudo, para além das publicações já citadas, na Revista de Portugal, a convite de Eça Queirós, assumindo funções de secretariado a partir de 1891, notabilizando-se pelos estudos relativos à reforma do ensino técnico.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      AA.VV., 1966, O Comércio da Póvoa do Varzim, Número Comemorativo do Primeiro centenário do nascimento de Rocha Peixoto.

      AA.VV., “ROCHA PEIXOTO (António Augusto da)”, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.25, Lisboa, Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, Lda., 856-857.

      LEAL, João, 2000, Etnografias Portuguesas (1870-1970) Cultura e Identidade Nacional, Lisboa, Colecção Portugal de Perto, Publicações Dom Quixote.

      LEAL, João, 2006, Antropologia em Portugal: Mestres, Percursos, Tradições, Lisboa, Livros Horizonte.
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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