Ficha de Investigador

SANTOS, Artur

  • Denominação: SANTOS, Artur
  • Nascimento: Lisboa,1914
  • Óbito: ,1987
  • Biografia:
    • Artur Álvaro dos Santos Correia de Sousa nasceu em 1914, em Lisboa, e morreu a 1987. Com um percurso profissional diversificado foi etnomusicólogo, pianista, compositor e professor. Desde cedo Artur Santos revelou as suas aptidões artísticas no domínio da música erudita. Formou-se em Piano e Composição pelo Conservatório Nacional de Lisboa (1935-1936), e estudou em Paris e Londres, como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura.

      Assumiu em 1941, o cargo de professor de Composição no Conservatório, que manteve até à sua reforma, em 1980. O reconhecimento do seu contributo para cultura artística mereceu-lhe o Prémio do Conservatório Nacional de Lisboa e o Prémio Beethoven na década de 30. Após uma breve colaboração com a Emissora Nacional de Radiodifusão ganhou, em 1943, o prémio Rey Colaço, atribuído pelo Gabinete de Estudos Musicais da respetiva emissora. A sua obra As Oito Canções Populares Portuguesas, que compôs para soprano e orquestra, mereceu a divulgação internacional pelo maestro Pedro Freitas Branco.

      A par de um percurso de notoriedade na área da composição, que abandonou na década de 40, o seu contributo essencial para a Etnografia Portuguesa residiu, em particular, no rigor científico que colocou nas suas campanhas etnomusicológicas, realizadas entre 1930 a 1965, desenvolvidas em território nacional, nomeadamente, nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, bem como nas ex-colónias portuguesas.

      Defendendo a institucionalização da Etnomusicologia em Portugal, Artur Santos destacou-se pela atividade que consagrou ao estudo e registo da música tradicional portuguesa, num amplo entendimento dos meios de produção e reprodução musical, privilegiando o contexto rural português. Estes estudos foram realizados com o apoio oficial do então Ministério da Educação Nacional, através do Instituto de Alta Cultura.

      O apoio das Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada, permitiu-lhe a realização de campanhas de investigação e recolha do cancioneiro tradicional açoriano. Estas campanhas foram iniciadas em setembro de 1952 e decorreram até 1960, efetuando um levantamento da música tradicional portuguesa nas ilhas de Santa Maria (1955 e 1958), S. Miguel (1952/53 e 1959/60) e Terceira, do qual resultou uma vasta coletânea discográfica da Antologia Sonora, intitulada O Folclore Musical das Ilhas dos Açores. Para o estudo deste património musical etnológico, o investigador privilegiou como metodologia científica o registo in loco, no contacto direto com as comunidades, dotando-se de meios de gravação em fita magnética e dos registos fotográficos, fílmicos, entre outros.

      Em 1956 o seu trabalho Folk Music of Portugal foi editado pela B.B.C, em Londres, atingindo o reconhecimento pelo International Folklore-Music Council, instituição de grande relevo, naquela época, para a Etnomusicologia, da qual integrou a Comissão Executiva. Entre 1956 e 1965 editou uma antologia musical das províncias da Beira Baixa e Beira Alta. Destacou-se na consagração destes trabalhos de registo e estudo da música tradicional portuguesa a colaboração de Túlia Santos, sua mulher e assistente. No âmbito da sua investigação na “Missão Folclórica em Angola”, nomeadamente, a Luanda e Alto Zambeze, para além da edição de uma coleção discográfica em 1949, os estudos musicais de Artur Santos deram origem a uma exposição realizada no Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (antigo SPN), em Lisboa (1951) e em Amesterdão (1954), da qual resultou um catálogo de fotografias e de instrumentos musicais.

      A sua produção etnográfica materializou-se, essencialmente, na edição discográfica, para além da produção de textos de sua autoria que acompanharam as coleções musicais e da documentação etnográfica constituída no processo de registo. Em 1988, parte significativa do seu espólio, composto por testemunhos materiais e imateriais da tradição oral, foi doado pela sua família ao Museu de Angra do Heroísmo e ao Instituto de Etnomusicologia da Universidade de Lisboa. Este acervo reúne registos de gravação, notas de campo, instrumentos musicais e seus contextos de execução, fotografias, filmes e outros elementos de interesse etnográfico, revelando-se importantes testemunhos para o estudo do património cultural português.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      AA.VV., 2005, O Folclore Musical da ilha de Santa Maria, Açores (1955-1958), Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada.

      CRUZ, Cristina Brito da, 2001, Artur Santos e a Etnomusicologia em Portugal (1936-1969), Dissertação de Mestrado em Ciências Musicais, Etnomusicologia, sob a orientação da Profª Salwa Castelo-Branco, Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (no prelo).
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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