Ficha de Investigador

ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal)

  • Denominação: ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal)
  • Nascimento: Baçal (Bragança),09/04/1865
  • Óbito: Baçal (Bragança),13/11/1947
  • Biografia:
    • O Abade de Baçal, de seu nome Francisco Manuel Alves, nasceu a 9 de abril de 1865 em Baçal, Bragança, onde veio a falecer a 13 de novembro de 1947. Personalidade de grande relevo na cultura portuguesa da primeira metade do século XX, foi historiador, arqueólogo e etnógrafo.

      Filho de Francisco Alves Barnabé e Francisca Vicente, era originário de uma família de lavradores. Fez os preparatórios no Liceu de Bragança e ingressou em Teologia no Seminário de São José na mesma cidade, tendo sido ordenado presbítero a 13 de junho de 1889. Em 1890 tornou-se pároco da freguesia de Mairos, onde permaneceu até 1896, data em que foi nomeado para a paróquia de Baçal. Em 1908 foi eleito vereador (regenerador) da Câmara Municipal de Bragança, cargo que exerceu até à implantação da República. Paralelamente às suas funções eclesiásticas, o Abade Baçal destacou-se na historiografia regionalista do nordeste transmontano.

      Autodidata, o seu despertar para os estudos históricos surge ainda no Seminário. Em 1917, foi nomeado Presidente do Instituto Científico Literário de Trás-os-Montes e foi fundador do Instituto Etnológico da Beira. Em reconhecimento à sua contribuição para o estudo da região de Trás-os-Montes foi nomeado, em 1925, diretor do Museu Regional de Bragança, ao qual esteve ligado desde a sua criação e onde criou o “Grupo de Amigos dos Monumentos e Obras de Arte de Bragança”. Este grupo revelou ter um papel decisivo, particularmente até finais da década de trinta, na organização do museu, na aquisição de novos espécimes e na preservação do património cultural da região. Em 1935, por ocasião da sua jubilação, recebeu o título de Abade, nome pelo qual ficou conhecido e, em sua homenagem, o Museu passou a designar-se Museu do Abade de Baçal.

      A sua investigação histórica, que abarca a paleografia, a epigrafia e a numismática, até ao conhecimento da arqueologia e etnografia e história geral do Distrito de Bragança, foi baseada em transcrições de documentos e registos originais, nas suas “excursões archeológicas”, iniciadas em 1907 a 1946 (num total de oitenta), assinaladas nos seus Couseiros e na correspondência partilhada com os seus colaboradores locais.

      À luz das tendências dominantes da prática etnográfica do final do século XIX, a sua produção centrou-se no estudo dos usos, costumes e tradições orais, privilegiando a investigação da cultura popular da região de Bragança. O trabalho desenvolvido pelo Abade de Baçal destaca-se pela importância dos estudos relativos à literatura oral, incluídos em obras de outros autores, designadamente, em o Romanceiro Português (1958 e 1960) e o Cancioneiro Popular Português (1975-1983) da autoria de José Leite de Vasconcelos, com quem manteve uma relação de amizade.

      A sua produção bibliográfica revelou-se profícua nos seus vários campos de investigação, como se destaca na sua obra mais importante, compilada em onze volumes, intitulada Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, publicada originalmente entre 1909 e 1949. Os primeiros oito volumes desta publicação refletem a história institucional do distrito, desde a política e sociedade, economia, genealogia e religião; os três restantes volumes versam os domínios da arqueologia, da arte e da etnografia. Esta obra evidencia a sua atividade etnográfica de recolha, registo e estudo da tradição e da literatura oral, considerando as diferentes formas de narrativas populares desde quadras, ditados populares, ensalmos, lendas, fábulas, superstições, romanceiro e cancioneiro.

      Outras obras de referência no âmbito da produção etnográfica do investigador encontram-se dispersas em periódicos da época, compreendendo essencialmente as seguintes temáticas: Apodos tópicos, 1908; Vestígios do regime agrário comunal, 1910; Trás-os-Montes (Coleção Portugal na Exposição de Sevilha), 1929; Homenagem a Martins Sarmento, 1933; Arqueologia, Etnografia e Arte, 1934; As terras bragançanas ao Benemerente, 1934 (Miscelânea científica e literária dedicada a José Leite de Vasconcelos); A Festa dos Rapazes, 1938; Vinicultura Duriense, 1938; Superstições, 1942; Superstições, crendices, medicina popular, 1942; Epistolário, 1955; Apodos populares bragançanos, 1960.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      AA.VV., 1994, Museu do Abade Baçal, Bragança, Instituto Português dos Museus.

      ALVES, Francisco Manuel, 2000 (1909-1947), Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Bragança, Tomo I, IX, X, XI, Câmara Municipal de Bragança/ IPM/ Museu Abade de Baçal.
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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