Ficha de Investigador

LEITE DE VASCONCELOS, José

  • Denominação: LEITE DE VASCONCELOS, José
  • Nascimento: Ucanha,07/07/1858
  • Óbito: Lisboa,17/05/1941
  • Biografia:
    • José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo nasceu a 7 de julho de 1858, na Ucanha, Concelho de Tarouca, e morreu a 17 de maio de 1941, em Lisboa.

      Foi uma das mais notáveis personalidades da Cultura e de Ciência Portuguesa dos finais do século XIX e início do século XX, cuja produção científica marcou a investigação portuguesa em temas relacionados com os domínios da Arqueologia, Epigrafia, Numismática, Pré-História, História Literária, Etnografia e Filologia.

      Formou-se em Medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto (1886), apresentando como tese de licenciatura o estudo sobre a Evolução da Linguagem, definindo as suas predileções pela investigação da filologia e etnologia. Já em 1882 haveria publicado um dos seus primeiros trabalhos científicos Tradições Populares Portuguesas, trilhando desde cedo os caminhos da sua erudição.

      A sua efémera passagem pelo Cadaval, onde exerceu funções de Subdelegado de Saúde, em 1885, e a abertura de um consultório no Porto, depressa o consciencializaram que os seus interesses não se pautavam pela prática da medicina. De 1887 a 1911 foi Conservador da Biblioteca Nacional, definindo a consolidação das linhas de estudo que marcaram a sua produção literária e científica, sendo a maior expressão deste conhecimento a edição da Revista Lusitana (1887-1943), por ele fundada e dirigida. Esta publicação, editada em trinta e nove volumes, representa um repositório notável da cultura tradicional portuguesa, para o qual colaboraram eminentes personalidades da ciência, nacionais e internacionais.

      Em 1893 fundou o Museu Etnológico Português (atual Museu Nacional de Arqueologia), inicialmente constituído pelo espólio de Estácio da Veiga e, posteriormente, enriquecido por materiais recolhidos por José Leite de Vasconcelos e a integração, em 1905, do acervo da Escola Politécnica. Assumindo, desde logo, a direção do Museu, cargo que ocupou até 1929, data da sua aposentação, a sua atividade pautou-se pela concretização do programa científico que consagrou ao estudo e divulgação do conhecimento do património cultural português e suas origens. Promulgou a investigação dos domínios da Arqueologia, Epigrafia e Etnografia, através de numerosas escavações e recolhas etnográficas que realizou por todo o país, proporcionando o amplo enriquecimento das coleções do Museu e a divulgação destes trabalhos em periódicos da especialidade e de temática diversificada. A este propósito surgiu, em 1885, a publicação do órgão oficial da instituição, O Arqueólogo Português, cuja edição é assegurada até ao presente pelo Museu Nacional de Arqueologia.

      O esforço destas iniciativas deveu-se ao apoio da extensa e sólida rede de colaboradores locais com quem José Leite de Vasconcelos privou e se correspondeu. Fundou e dirigiu, para além das publicações já mencionadas, o Anuário das Tradições Portuguesas e o Boletim de Etnografia (1920-1937), edições representativas da atividade etnográfica dominante neste período, focadas no estudo da literatura oral e das tradições culturais portuguesas, a par de assuntos filológicos. Merecendo-lhe também destaque o tema da arte popular (1920-1924), que publicou em Boletim de Etnografia.

      Em 1911 doutorou-se em Filologia Românica na Universidade de Paris, apresentando a tese Esquisse d’une Dialectologie Portugaise, consagrada aos dialetos mirandês e ao barranquenho. Foi responsável pela regência das disciplinas de Filologia, Arqueologia e Epigrafia da Faculdade de Letras de Lisboa (1911), a par dos cursos de Numismática e Filologia que ministrou na Biblioteca Nacional.

      Para além da sua obra monumental no domínio da arqueologia, Religiões da Lusitana (3 vols., 1897-1913), salientam-se outras obras literárias de cariz etnográfico, nomeadamente, Ensaios Etnográficos (4 vols. 1891-1910), Opúsculos (6 vols., 1928- 1938), Linguagem Popular Portuguesa (1884), Lições de Filologia Portuguesa (1911), Romanceiro Português (1958-1960), Teatro Popular (1947-1979). Foi ainda autor de recolhas e ensaios de etnografia comparada, designadamente, Signum Salomonis (1918), A Barba em Portugal (1925) e A Figa (1925).

      Do seu trabalho etnográfico destaca-se, naturalmente, a obra Etnografia Portuguesa, cuja edição em dez volumes (1933-1988) foi largamente assegurada já depois da sua morte, em 1940, por um dos seus mais prediletos discípulos, Manuel Viegas Guerreiro, com base nos materiais que recolheu.

      Foi consagrado com inúmeras distinções académicas e científicas, nacionais e internacionais, tendo sido membro da Real Academia das Ciências (1910), presidente de honra da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Foi ainda presidente do Museu da Academia das Ciências de Lisboa entre 1913 e 1933.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      AA.VV., 2008, O Arqueólogo Português, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.

      AA.VV., 2008, Fotobiografia de José Leite de Vasconcelos, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.

      LEAL, João, 2006, Antropologia em Portugal: Mestres, Percursos, Tradições, Lisboa, Livros Horizonte.

      LEAL, João, 2000, Etnografias Portuguesas (1870-1970) Cultura e Identidade Nacional, Lisboa, Colecção Portugal de Perto, Publicações Dom Quixote.

      LEITE DE VASCONCELOS, José, 1980, Etnografia Portuguesa, vol. I, Imprensa Nacional.

      PEREIRA, Benjamim Enes, 2009 [1965], Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa (edição em formato electrónico), Lisboa, Instituto dos Museus e da Conservação.
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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