Ficha de Investigador

LEÇA, Armando

  • Denominação: LEÇA, Armando
  • Nascimento: Leça da Palmeira,09/08/1893
  • Óbito: Vila Nova de Gaia ,21/01/1977
  • Biografia:
    • Armando Lopes, de pseudónimo Armando Leça, nasceu em Leça da Palmeira, a 9 de agosto de 1893, e morreu em Vila Nova de Gaia a 21 de janeiro de 1977.

      Descendente de uma família de músicos amadores, foi compositor, etnomusicólogo e pioneiro na divulgação do Cancioneiro Tradicional Português, sendo considerado uma das figuras de referência na investigação musical portuguesa do século XX.
      Iniciou a sua educação musical no Porto, com os Professores José Cassagne e Pedro Blanco, tendo lecionado, desde 1919, a disciplina de Canto Coral no Liceu de Rodrigues de Freitas do Porto. Em Lisboa, estudou no Conservatório Nacional de Música, no qual foi professor das disciplinas de Piano e Composição. A sua produção musical ficou marcada pelos seus trabalhos de composição ligados ao cinema mudo português (A Rosa do Adro, Os Fildalgos da Casa Mourisca, Amor de Perdição e Mulheres da Beira).

      A par dos seus contributos para a cultura artística, Armando Leça foi um dos mais profícuos coletores de música popular portuguesa nas suas múltiplas expressões locais e regionais. As suas primeiras transcrições de música tradicional datam de 1908, iniciando as suas incursões no mundo rural em 1913, tendo como referência obras de coletores anteriores, como Neves e Melo, César das Neves e Pedro Fernandes Tomás. Como resultado de um primeiro trabalho, publicou uma série de trinta melodias e uma coletânea de modas regionais, a quatro vozes, de todas as províncias portuguesas. Da sua produção etnográfica destacam-se as obras Da Música Portuguesa, de 1922 (1942, 2.ªed.), e Música Popular Portuguesa, de 1945, estudo publicado com a colaboração e apoio do Instituto para a Alta Cultura.

      Desde o início dos anos 20 até à década de 70, as suas reflexões em torno da música de tradição oral foram amplamente difundidas através de conferências e publicações periódicas. A divulgação do seu trabalho de investigação no âmbito do estudo da música popular portuguesa ganhou expressão a partir da década de 30, através de reportórios musicais populares difundidos em programas de rádio. Em 1932, assumiu o cargo de diretor artístico da Rádio Porto, onde foi responsável pela emissão semanal do programa Hora de Música Portuguesa. Inaugurou mais tarde, entre 1957 e 1961, na sequência do encerramento da Rádio Porto, a rubrica semanal Do Minho ao Algarve, na secção do Porto do Rádio Clube Português, tendo sido emitidos 371 programas.

      Autodesignado de “músico caminheiro”, Armando Leça colaborou na realização de iniciativas do SPN/SNI, em eventos como os seguintes: Concurso do Cacho Dourado (1936 e 1937), Grande Cortejo Folclórico (1937), Concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal (1938). Colaborou na obra A Vida e Arte do Povo Português, com o artigo intitulado Todos os Povos Cantam e Dançam (1940).

      Em 1939-1940 a Comissão Executiva dos Centenários encarregou o etnomusicólogo de organizar e compilar um acervo de música popular portuguesa, com a colaboração de grupos regionais, tendo os registos sonoros sido realizados em parceria com a Emissora Nacional. Deste sistemático estudo resultou o Cancioneiro Músico-Popular - Relatório dos trabalhos de recolha para a organização de uma discoteca de música popular portuguesa, em 1940, e uma coleção de registos sonoros em sessenta e duas fitas de acetato, intitulada Recolha Folclórica (1939-1940) compilando cerca de quinhentas melodias, canções, cantigas e danças de todo o território português, arquivo documental que se reveste de particular interesse pelo facto de serem os primeiros registos sonoros de música de matriz rural.

      Simultaneamente, a sua atividade etnográfica revelou-se significativa no contexto dos agrupamentos de folclore que se constituíram no período do Estado Novo, tendo integrado júris e comissões de concursos, festivais e cortejos de folclore. Através de eventos folclóricos Armando Leça conduziu à “reorganização” de grupos já existentes e à constituição de outros, tais como o Rancho da Amarosa que fundou em 1935. No âmbito da parceria com a Rádio Triunfo, entre 1959 e 1961 editou oitenta e cinco discos, numa compilação de referências musicais de vários grupos folclóricos.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      AA.VV., “LEÇA (Armando)”, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.14, Lisboa, Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, Lda., 800.

      LEAL, João, 2000, Etnografias Portuguesas (1870-1970) Cultura e Identidade Nacional, Lisboa, Coleção Portugal de Perto, Publicações Dom Quixote.

      LEAL, João, 2006, Antropologia em Portugal: Mestres, Percursos, Tradições, Lisboa, Livros Horizonte.

      LOPES, Rui de Freitas, 1980, “Armando Leça” in Boletim da Biblioteca Pública da Câmara Municipal de Matosinhos, 24, separata, Matosinhos, Câmara Municipal de Matosinhos.

      PEREIRA, Benjamim Enes, 2009 [1965], Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa (edição em formato electrónico), Lisboa, Instituto dos Museus e da Conservação.
Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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