Ficha de Investigador

CHAVES, Luís

  • Denominação: CHAVES, Luís
  • Nascimento: Chaves,09/05/1888
  • Óbito: ,1975
  • Biografia:
    • Luís Rufino Chaves Lopes nasceu a 9 de maio de 1888, em Chaves, e morreu em abril de 1975.

      Formado em Estudos Matemáticos pela Escola Politécnica e pela Universidade de Coimbra desenvolveu atividade como escritor, etnógrafo, arqueólogo e filólogo. O seu percurso na investigação etnográfica ficou marcado pela atividade que desenvolveu no Museu Etnológico Português (atual Museu Nacional de Arqueologia) desde 1912, quando foi nomeado preparador do Museu, ascendendo, com a saída de Vergílio Correia, a Conservador interino em 1916. Porém, as suas ligações aos ideais monárquicos da época contribuíram para o seu afastamento do Museu em 1919, durante largo período, onde regressou para o cargo de Conservador em 1931, após concurso público, ocupando o lugar de Manuel Heleno quando este passou a ser diretor do Museu. Assim permaneceu até 1957, data da sua aposentação.

      Da sua atividade museológica resultaram diversos trabalhos publicados na revista O Arqueólogo Português. Pertenceu paralelamente ao Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, instituição que representou até 1964, enquanto Vice-Presidente, na Junta Nacional de Educação; pertenceu ao corpo docente do Colégio Académico, vindo também a integrar a sua direção. Lecionou História de Arte e Iluminura, oitava cadeira do Curso Superior de Bibliotecário Arquivista, e foi professor do estágio para conservadores dos Museus, Palácios e Monumentos Nacionais, tendo trabalhado como bibliotecário da Casa Cadaval.

      Os seus trabalhos no âmbito da Arqueologia e Etnografia iniciaram-se em 1913, quando Leite de Vasconcelos, então diretor do Museu Etnológico, o encarregou do prosseguimento dos trabalhos arqueológicos que decorriam em Outeiro da Assenta (Óbidos) e em Santa Vitória do Ameixoal (Estremoz), entre 1915 e 1916. Paralelamente a estas campanhas arqueológicas, efetuou pesquisa etnográfica, tendo publicado estudos como: Os Barristas de Estremoz (séc. XVIII-XX) , 1916; Etnografia alentejana – o rancho da azeitona (Estremoz e Elvas) , 1916; Folclore de Santa Vitória do Ameixoal (Estremoz) , 1916; Arte popular no Alentejo: os ganchos de meia de barro de Estremoz (séc.XX) , 1917. Na sua obra Folclore de Santa Vitória do Ameixoal dá a conhecer o resultado da sua recolha direta de expressões orais locais. Contudo o essencial da sua produção etnográfica centrou-se no estudo da arte popular e cultura material, como demonstra a sua obra Barristas Portugueses, que se fundamentou em figuras de presépios que observou em terras alentejanas, designadamente em Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Veiros e Sousel.

      O seu interesse pela temática da arte popular ganhou contornos mais vincados, nomeadamente, a partir dos anos 20. Luís Chaves revelou-se uma figura central na Etnografia da I República, e teve um lugar de destaque como colaborador oficial da acção folclorista do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN/SNI), no âmbito da política do Estado Novo. Integrou a Comissão de Etnografia Nacional, participou nas iniciativas desenvolvidas pelo SPN/SPI, designadamente, o Concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal (1938) e o Centro Regional da Exposição do Mundo Português (1940), sendo também autor de uma parte significativa das obras editadas neste contexto. Organizou a Exposição de Arte Popular Portuguesa, realizada em 1936 na sede do SPN, tendo sido autor do respectivo catálogo, em colaboração com o etnógrafo Cardoso Marta.

      Dois anos mais tarde participou, em conjunto com Cardoso Marta e outros colaboradores do SPN/SPI, nos trabalhos de instalação do Museu de Arte Popular, escrevendo sobre esta temática em 1948, no seu trabalho intitulado O Novo Museu de Arte Popular. Em 1946 publicou o estudo O Povo Português através da Etnografia e das Tradições Artísticas. Em 1940 dirigiu Vida e Arte do Povo Português, em parceria com Francisco Lage e Paulo Ferreira. Foi autor da obra Folclore Religioso (1945), alusiva às práticas e tradições populares religiosas consagradas no “ciclo dos doze dias”, nas Festas do Espírito Santo e no Natal, merecendo-lhe igual interesse a hagiografia popular e as danças religiosas.

      Privilegiou também a temática da etnografia olisiponense, na edição de quatro tomos de Lisboa nas Auras do Povo e da História – Ensaios de Etnografia.

      A diversidade de temas etnográficos que elaborou, aliada naturalmente à sua colaboração próxima com o Estado Novo, conferiu-lhe grande visibilidade até finais dos anos 60, expressa nas suas múltiplas colaborações em revistas e jornais. Destaque aqui para a sua colaboração com a Revista Ocidente, na qual manteve durante vários anos uma crónica intitulada Nos Domínios da Etnografia Portuguesa, assim como a sua participação no Mensário das Casas do Povo.


      Nota bibliográfica elaborada pelo DPI/IMC com base na seguinte bibliografia:

      ALVES, Vera Marques, 1997, “Os Etnógrafos Locais e o Secretariado de Propaganda Nacional. Um estudo de caso” , Etnográfica, vol. I (2), Lisboa, 237-257.

      ALVES, Vera Marques, 2007, “Camponeses estetas” no Estado Novo: Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado de Propaganda Nacional, ISCTE, Lisboa, (no prelo).

      CASTELO-BRANCO, Fernando, 1979, “Luís Chaves (Etnógrafo, 1888-1975)”, Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. XVII, Coimbra, Instituto de Estudos Românicos, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1177 – 1192.

      LEAL, João, 2000, Etnografias Portuguesas (1870-1970) Cultura e Identidade Nacional, Lisboa, Colecção Portugal de Perto, Publicações Dom Quixote.

      LEAL, João, 2006, Antropologia em Portugal: Mestres, Percursos, Tradições, Lisboa, Livros Horizonte.

      PEREIRA, Benjamim Enes, 2009 [1965], Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa (edição em formato electrónico), Lisboa, Instituto dos Museus e da Conservação.

Secretário de Estado da Cultura Direção-Geral do Património Cultural
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